De acordo com a Associated Press (AP), há casos de mulheres e jovens sudanesas que estão a ser forçadas a ter sexo em troca de assistência, em espaços destinados a refugiados e deslocados no Chade, inclusivamente com homens “que as deveriam proteger, como trabalhadores humanitários e forças de segurança locais”.

 

Em Adre, uma cidade perto da fronteira com o Sudão, a agência noticiosa falou com três vítimas e também com uma psicóloga, que reportou testemunhos de outras sete mulheres e jovens que se recusaram a falar diretamente para a reportagem da AP.

Os casos reportados dizem respeito a mulheres refugiadas e deslocadas sudanesas, em situação precária e de fragilidade, que são sexualmente exploradas em troco de assistência, comida ou trabalho.

A psicóloga contactada pela Associated Press, Daral-Salam Omar, afirmou que algumas mulheres a procuraram, porque engravidaram e tinham vergonha de abortar com medo de serem rejeitadas pela comunidade.

“Elas estavam psicologicamente destruídas. Imaginem uma mulher engravidar sem ter um marido no meio desta situação”, disse.

Entre as situações descritas está a de uma mulher, mãe de cinco filhos, tendo o mais novo apenas sete semanas de vida, que terá resultado de uma gravidez indesejada com um trabalhador sudanês dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), que lhe prometeu dinheiro em troco de sexo.

“Os meus filhos estavam a chorar. Ficámos sem comida. […] Ele abusou da minha situação”, afirmou a mulher, que admitiu não ter reportado a situação com medo de ser denunciada à polícia.

A AP refere que outras duas mulheres acusaram também dois homens do Chade, alegadamente a trabalhar para a MSF, que lhes prometiam trabalho em troca de sexo.

O secretário-geral daquela organização, Christopher Lockyear, disse que a MSF não tinha conhecimento daquelas acusações, nem quantos casos tinham sido reportados entre sudaneses refugiados no Chade e que iria iniciar uma investigação.

Segundo a Organização das Nações Unidas, os campos de refugiados e deslocados têm espaços seguros nos quais as mulheres podem reunir-se, e existem canais de apoio para denúncia anónima de abusos.

No entanto, muitas das mulheres sudanesas não recorrem a estes mecanismos por considerarem que chamariam a atenção.

Em outubro, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) revelou que o número de deslocados internos no Sudão já atingiu os 11 milhões, aos quais se juntam outros 3,1 milhões de refugiados noutros países.

“A situação aqui no Sudão é catastrófica. Simplesmente não há outra forma de o dizer. A fome, a doença e a violência sexual são galopantes. Para o povo do Sudão, isto é um pesadelo”, disse a diretora-geral da OIM, Amy Pope, num comunicado.

O atual conflito no Sudão, que obrigou mais pessoas a fugirem das suas casas do que qualquer outro no mundo, tem, segundo a OIM, números alarmantes. Mais de metade dos deslocados são mulheres e um quarto são crianças com menos de 5 anos.

Leia Também: Dezassete soldados chadianos e 96 rebeldes mortos pelo Boko Haram

Compartilhar
Exit mobile version