“O homem que pôs milhões de franceses a ler”, graças aos programas de divulgação que apresentou durante mais de três décadas no canal France 2, como escreve a AFP, e que também presidiu a Academia Goncourt, trouxe uma dessas emissões ao Palácio de Fronteira, em Lisboa, em 1998, para a dedicar à cultura portuguesa.

Nascido em 05 de maio de 1935, em Lyon, numa família de pequenos comerciantes, era apaixonado pela História e pela sua língua, o francês, com todas as suas “pequenas particularidades, como regularmente afirmou.

Estudou Direito, em Lyon, Jornalismo, em Paris, estreou-se como jornalista no suplemento literário do diário Le Figaro, em 1958, que veio a dirigir, e que trocou anos mais tarde, em 1973, pela televisão, para apresentar um magazine literário.

Em 10 de janeiro de 1975, estreou o seu primeiro programa de sucesso, em nome próprio, ‘Apostrophes’, que se tornou objeto de culto na televisão francesa e, depois, nos canais por satélite emergentes nos anos de 1980.

Entrevistas a escritores como Alexandre Soljenitsyne, Vladimir Nabokov, Marguerite Duras, Marguerite Yourcenar, Umberto Eco e Jean-Marie Le Clézio, Claude Levi-Strauss, Roland Barthes e Pierre Bourdieu, expoentes das letras e do pensamento na segunda metade do século XX, afirmaram a importância do programa durante quase duas décadas.

O seu âmbito foi alargado a políticos e aos seus gostos, como o Presidente francês François Mitterrand. Em 1987, Pivot ousou entrevistar Lech Walesa clandestinamente na Polónia, desafiando as autoridades pró-soviéticas dessa Varsóvia.

Em janeiro de 1991, ‘Apostrophes’ deu lugar a ‘Bouillon de culture’, no qual Bernard Pivot alargou o universo dos livros, ao cinema e à arte.

Foi ‘Bouillon de culture’ que Bernard Pivot trouxe a Lisboa, em tempo de Expo’98, para numa mesma emissão entrevistar a escritora Lídia Jorge, o cineasta Manoel de Oliveira e os seus atores Leonor Silveira e Diogo Dória, sem esquecer o então ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho.

‘Bouillon de culture’ teve a última emissão em junho de 2001. Seguiu-se então ‘Double jeu’, entre 2002 e 2005, altura em que Pivot se afastou de uma presença regular nos écrãs.

Membro da Académie Goncourt desde 2004 e presidente de 2014 a 2019, a sua biografia literária inclui vários ensaios e dois romances, um mais esquecido, publicado em 1959 (‘L’Amour en vogue’), e outro em 2012 (‘Oui, mais quelle est la question?’).

Hoje a Academia homenageou aquele que foi o primeiro “não escritor” profissional que cooptou, elogiando a sua “curiosidade insaciável”, os “elevados padrões morais”, assim como “a sua independência intransigente” em relação às grandes editoras.

Sob a sua presidência, escreve a AFP, citando a Academia Goncourt, os prémios de 2006 (‘As Benevolentes’, de Jonathan Littell) e de 2010 (‘O Mapa e o território’, de Michel Houellebecq) ficarão na história.

Hoje, o Presidente francês Emmanuel Macron lembrou igualmente Bernard Pivot, que definiu como “popular e exigente, querido no coração dos franceses”, e que viveu “com o espírito francês da conversa, da curiosidade e da ‘gourmandise’.”

Entre as obras de Pivot também se encontra um ‘Dictionnaire amoureux du vin’ (2006).

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