Janey Godley morreu de cancro nos ovários, doença com que lidou desde 2021 e que se tornou na linha dominante das suas derradeiras digressões, “Not dead yet”, levada a palcos britânicos e a festivais como o Fringe, e “Why Is She Still Here?” (“Porque é que ela ainda aqui está?”), que já não pôde retomar no passado mês de setembro.
Godley, que tomou para título da sua biografia “The Woman That Won’t Shut Up” (“A mulher que não se cala”), enfrentou Donald Trump em 2016, com um cartaz onde se lia “Trump is a cunt”, quando o atual candidato à presidência dos Estados Unidos concorria pela primeira vez à Casa Branca e visitava o campo de golfe de Turnberry, que detém na Escócia. A imagem do confronto ganhou de imediato dimensão global.
No ano passado, quando Trump confirmou a nova candidatura, Janey Godley afirmou publicamente que aquele era um dos momentos de orgulho da sua vida.
Janey Godley nasceu em Campsie, na Escócia, em 20 de janeiro de 1961, cresceu em Glasgow, e iniciou a carreira na comédia ‘stand up’ em 1994. A crítica social e a denúncia do impacto das políticas de Margaret Thatcher, no Reino Unido, depressa a colocaram na primeira linha dos comediantes britânicos, com um humor que encontrou eco além-fronteiras, dos Estados Unidos à Nova Zelândia.
Entrou em filmes como “Rosa Selvagem”, de Tom Harper, “The Last Mermaid”, de Fi Kelley, e protagonizou séries de televisão como “I Got News For You” e “River City”, tendo participado também na produção dramática “Traces”, exibida em Portugal com o título “Prova de Vida”. Na rádio BBC, foi autora de programas como “Just a Minute”, “Loose Ends” e, mais recentemente, “The C Bomb”, sobre o cancro.
Nos seus programas, assim como em mensagens nas redes sociais e nos seus artigos na imprensa, alertou recorrentemente para sintomas de cancro nos ovários que podem passar despercebidos, como mal-estar abdominal, e dificultar um diagnóstico atempado da doença.
Nos últimos anos, o humor de Godley nunca deixou de ter por alvo a situação social e política, satirizando figuras como Donald Trump e os antigos primeiros-ministros britânicos Boris Johnson e Liz Truss. Apoiou o movimento pró-independência da Escócia, e usou a sua presença em palco e nos meios de comunicação para condenar a transfobia, a violência doméstica e o abuso sexual, de que foi vítima na adolescência.
Goodley, que também foi dramaturga, ‘blogger’ e colunista do jornal The Scotsman, recebeu por diversas vezes o prémio do festival Fringe, de Edimburgo (Fringe Report Award), assim como o de melhor intérprete dos seus palcos.
No ano passado, foi a vencedora da primeira edição do Prémio Billy Connolly Espírito de Glasgow, no Festival Internacional de Comédia da cidade escocesa. Na quinta-feira, a Universidade de Glasgow atribuiu-lhe o doutoramento ‘honoris causa’.
O jornal The Guardian descreve-a hoje como “uma comediante notável que construiu uma carreira nos seus próprios termos”.
Em março, numa entrevista à televisão britânica ITV, Janey Godley afirmou: “Tenho tanta coisa para fazer que me esqueço sempre de que tenho um diagnóstico terminal”.
No passado dia 25 de setembro escreveu na rede social Twitter: “Estou em fim de vida, em cuidados paliativos, a aguardar o previsível. Agradeço a todos os que me dão amor e apoio. Têm sido incríveis.”
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