“Acho que é uma ótima iniciativa. Espero que a IBM seja convidada para pelo menos dar o seu ‘apport’ [contributo] relativamente a isso”, diz Ricardo Martinho, em entrevista à Lusa.

 

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou na noite de abertura da Web Summit, que no primeiro trimestre do próximo ano seria lançando um LLM (‘Large Language Model’) português. Um LLM é um tipo de programa de inteligência artificial (IA) que pode reconhecer e gerar texto, entre outras tarefas.

Mas “nós já temos isso feito, por exemplo, aqui ao lado em Espanha”, onde há “um modelo de LLM em espanhol feito com a IBM”, uma parceria que a empresa fez com os laboratórios e com o Governo espanhol e já está a funcionar, detalha.

Aliás, “já têm um computador quântico no país basco”, acrescenta o presidente da IBM Portugal

Portanto, “eu acho que nós andamos um bocadinho atrasados relativamente à utilização de algumas destas tecnologias que temos ao nosso dispor”, considera.

A IBM Portugal marcou presença na Web Summit, primeiro porque se trata de um “evento internacional” e, depois, a “visibilidade” que a tecnológica quer dar é “global”, pelo que a cimeira das tecnologias ajuda a passar “essa mensagem”, conta.

Além disso, “estamos num momento único na evolução tecnológica que vivemos dentro da IBM, eu diria no mundo em geral, mas em especial aquilo que estamos a fazer dentro da IBM”, prossegue Ricardo Martinho.

Porque “é a primeira vez na história que nós temos os três maiores paradigmas da computação disponíveis ao mesmo tempo: a computação clássica, aquela que nós conhecemos hoje – a IBM é líder há muitos anos -, a questão da inteligência artificial, nós começámos há 51 anos a trabalhar com a inteligência artificial, mas agora com as novas tecnologias criámos uma ferramenta que achamos que vai mudar a vida das empresas tal e qual como elas estão hoje na utilização da inteligência artificial, e depois, com a parte da computação quântica”, elenca.

Ricardo Martinho refere que, atualmente, “só 40% das grandes empresas” com quem a IBM trabalha tem algum projeto a correr em produção à volta de IA e “41% ainda estão na fase de experimentação”.

Sobre se essa é uma realidade que também existe em Portugal, o presidente da IBM Portugal diz não ter a percentagem real.

Contudo, “acho que ainda é pior em Portugal. Acho que a desconfiança é maior e acho que a adoção não é uma adoção pensada. É uma adoção porque temos que meter em IA. E aquilo que nós defendemos é ao contrário. Nós chamamos a inteligência artificial primeiro”, prossegue.

Ou seja, “pensarmos naquilo que são os nossos modelos, repensarmos aquilo que é a forma como fazemos o nosso negócio e como é que a inteligência artificial pode ser a base de tudo aquilo que nós fazemos em cima”, mas “aquilo que vejo que está a acontecer em Portugal, não na generalidade, mas em algumas das empresas, é que eu tenho os meus negócios, eu tenho as minhas aplicações, eu tenho os meus processos e ponho a IA por cima desses processos”, ilustra.

Em suma, “tiro alguma vantagem, mas não estou a tirar todo o potencial que a inteligência artificial pode trazer”, adverte.

Questionado sobre se Portugal está atrasado em relação a outros mercados, Ricardo Martinho diz que “sim”.

Instado a comentar a necessidade de haver padrões de segurança para a IA, sublinha partilhar “totalmente essa visão”.

Os padrões de segurança “são fundamentais” e, além da segurança, “acrescento a questão da regulação e do governo da própria inteligência artificial”.

“Na IBM temos o Watsonx, que vai mudar a forma como as empresas usam a inteligência artificial” porque, assevera, “é realmente a única solução que permite a proteção de dados total”.

Isso significa, acrescenta, que “não tenho que passar os meus dados para nenhuma ‘cloud’, nem tenho que os tornar públicos para tirar o proveito daquilo que são os modelos. Construo os meus dados ‘on-prem’ [‘data centers’ que as empresas hospedam nas próprias instalações], com a segurança que tenho, tradicional e típica, (…) tirando o máximo partido dos dados e da informação que tenho”, explica.

“A segurança é fundamental, mas acima de tudo a questão da ética, a questão da credibilidade dos dados”, sublinha.

Segundo o responsável, “é impossível limitar a utilização da inteligência artificial, geograficamente, setorialmente”.

Aquilo “que temos que garantir, e é isso que nós garantimos neste tipo de ferramentas, é que estas ferramentas tenham a ética incorporada no seu desenvolvimento” e estas “não permitem a utilização não ética por causa dos filtros que têm de raiz, essa é que é a grande diferença”, refere.

“Nós acreditamos tanto no modelo que a IBM nos seus contratos aos clientes diz que, se por acaso um cliente for acusado de violar alguma lei de ‘copyright’, a IBM paga essa multa”, aponta.

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