Começou, recentemente, a 15 de setembro, a oitava edição do ‘Secret Story’, reality show da TVI. Caso não esteja familiarizado com o formato, neste programa cada concorrente entra com um segredo que os outros têm de descobrir. Entre os segredos desta temporada surgiu um que deixou muitos curiosos: “Sofro de ‘Michaelofobia'”.

 

Trata-se de uma fobia comum? O que a pode causar? Existem outras semelhantes? Estas foram algumas das perguntas que o Lifestyle ao Minuto fez a Alberto Lopes, neuropsicólogo e hipnoterapeuta, especialista em fobias na Clínica Dr. Alberto Lopes – Psicologia & Hipnose Clínica. 

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O que é uma fobia?

De forma simples, uma fobia é um medo irracional e intenso de um objeto, situação ou circunstância específica. Ao contrário do medo comum, que pode ser uma resposta natural a um perigo real, a fobia é desproporcional à ameaça sentida e provoca uma resposta de ansiedade extrema, levando a pessoa a evitar a qualquer custo o objeto ou situação temida. Esta sintomatologia acompanhada, muitas das vezes, pelo síndrome pânico ou mesmo acompanhada de ataques de pânico, leva a que os pacientes fóbicos passem a evitar a qualquer custo as situações desencadeantes do processo fóbico, alterando completamente as suas rotinas de vida. As fobias fazem parte do espectro clínico das perturbações de ansiedade generalizada.

© Alberto Lopes

Como define uma fobia como a ‘Michaelfobia’?

Não é uma condição clínica oficialmente reconhecida no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais (DSM-5), mas enquadra-se no espectro das fobias específicas. Neste contexto, trata-se de um medo irracional e desproporcional relacionado a ver imagens, ouvir música ou até mesmo pensar no cantor Michael Jackson.

Este tipo de fobia específica envolve a associação do artista a emoções intensas de medo, ansiedade ou desconforto extremo, mesmo na ausência de uma ameaça real. Tal fobia pode estar ligada a experiências passadas negativas ou traumáticas que ocorreram enquanto a pessoa estava exposta à figura ou à música de Michael Jackson. Quase sempre estas associações negativas acontecem na infância e, se não forem tratadas, deixam um impacto psíquico limitante que perdura e permanece na vida adulta.

Que tipo de situações podem servir como gatilho para quem sofre deste problema? Quais são os sintomas que causa?

Situações que envolvem qualquer elemento associado a Michael Jackson podem ser gatilhos para quem sofre de ‘Michaelfobia’. Um exemplo clássico é o videoclipe de ‘Thriller’, tema lançado com o álbum homónimo em novembro de 1982, que apresenta cenas aterradoras de zombies a dançar. Para uma criança, ou mesmo um adulto sensível, visualizar essa experiência pode ser extremamente assustador e originar um medo fóbico. A partir dessa exposição, qualquer coisa relacionada ao artista pode funcionar como gatilho. 

Os sintomas aparecem do nada e de forma inconsciente e incluem ansiedade intensa, sensação de pânico, taquicardia, sudorese, tremores, falta de ar e uma necessidade urgente de fugir ou evitar a situação, o que pode afetar seriamente o dia a dia de quem sofre dessa fobia.

O que pode causar esta fobia?

A Michaelfobia pode ser causada por uma experiência traumática ou desagradável que ocorreu enquanto a pessoa estava exposta à música ou imagem de Michael Jackson. Este fenómeno chama-se aprendizagem associativa, onde o cérebro associa um estímulo (neste caso, o artista ou o seu trabalho) a uma emoção negativa. 

Outro mecanismo que pode estar envolvido é o medo por modelagem, que acontece quando a pessoa, sobretudo na infância, observa alguém próximo, como um familiar, a manifestar medo ou até fúria em relação ao artista. Ao presenciar essas reações, a criança pode imitar essa resposta, aprendendo a associar Michael Jackson a uma sensação de perigo. Por fim, temos o medo por transferência ou imprint, onde a pessoa absorve um medo exagerado de alguém próximo, como pais ou outros cuidadores. Se, por exemplo, um adulto demonstra ansiedade extrema enquanto vê um videoclipe de Michael Jackson, a criança observa e aprende a interiorizar essa resposta emocional, mesmo sem entender o motivo, criando assim uma fobia relacionada ao artista. 

É um tipo de fobia raro?

Sim. Fobias específicas relacionadas a uma celebridade ou figura pública são pouco comuns. Contudo, podem ocorrer devido à forte presença mediática ou cultural da figura e à ligação emocional ou traumática que a pessoa desenvolve.

Existem outras fobias semelhantes a esta? 

Existem casos de fobias relacionadas a personagens públicas ou figuras do entretenimento, como medos associados a palhaços ou personagens fictícias de filmes de terror – esta última ocorre com mais frequência. Estas fobias costumam ter raízes semelhantes, onde uma figura amplamente exposta na cultura é associada as emoções de medo ou trauma.

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