“O que o Governo fez na lei da imigração foi de uma brutal irresponsabilidade ao acabar com o único mecanismo que existia para regularizar imigrantes que já estavam em Portugal. O que o Governo fez foi aumentar com a imigração clandestina em Portugal e isso vai ter consequências, porque a imigração clandestina quer dizer imigrantes que trabalham com menos salário, com menos direitos, menos capazes de se incluírem na sociedade. Imigração clandestina quer dizer que não vai haver reagrupamento familiar”, disse Mariana Mortágua.

 

A coordenadora do BE falava aos jornalistas em Lisboa durante a primeira Marxa Cabral em Portugal organizada pelo Movimento Negro.

Em junho, o Governo alterou a lei de estrangeiros e, entre outras medidas, extinguiu a figura das manifestações de interesse, um recurso jurídico que permitia a legalização de imigrantes em Portugal que tivessem chegado ao país com visto de turista.

Para Mariana Mortágua, “esta forma como o Governo está a tratar a migração vai piorar o problema”.

“Em vez de enfrentar o problema do racismo, da xenofobia, em vez de dar condições e do país olhar para a imigração de que precisa com outro olhar, como incluir as pessoas, está a fazer o contrário, que é atirá-las para a clandestinidade e acabar assim a dar azo a outras fenómenos que são alimentados pela extrema-direita”, precisou.

Sobre a importância desta manifestação, a coordenadora do BE afirmou que tem “uma dupla importância”, não só para “relembrar e celebrar Amílcar Cabral, que é uma figura central da democracia portuguesa”, como também para “fazer uma leitura dos dias de hoje”.

“Temos vindo a assistir ao crescimento de movimentos racistas e xenófobos na sociedade portuguesa, que estão a ser impulsionados por grupos de extrema-direita, grupos neonazis e também por parte de partidos de extrema-direita, como o Chega. Por isso, é preciso responder”, sublinhou.

A coordenadora do BE considerou também que “estas manifestações têm uma importância histórica”, existindo “muito por fazer em Portugal para combater o racismo”.

“Os fenómenos de violência que temos vindo a assistir nos últimos tempos em Portugal, nunca vistos em Portugal, de ataques a imigrantes, ataques em escolas, têm a ver com este ressurgimento do ódio e destas demonstrações de ódio, que queremos combater”, concluiu.

Centenas de pessoas, de várias raças, género e idades, participam hoje à tarde em Lisboa, na primeira Marxa Cabral em Portugal organizada pelo Movimento Negro.

Esta marcha realiza-se no Dia Internacional da Paz e vai percorrer a Avenida da Liberdade, culminando no Rossio (Largo de São Domingos), onde será lida uma declaração segundo a qual setembro será, a partir de hoje, o mês das Marxas Cabral em Portugal.

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