O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recordou, esta quarta-feira, “as centenas e centenas” de presos políticos que “sofreram e morreram” às mãos de uma “ditadura portuguesa” que acabou por se alastrar e atingir “os irmãos angolanos, guineenses, cabo-verdianos”, a propósito dos 50 anos da libertação do Campo do Tarrafal, em Cabo Verde.

“Este é, de facto, um momento que nos convoca para o passado, para o presente e para o futuro. Para o passado, homenageando as centenas e centenas de presos políticos; numa primeira fase portugueses, numa segunda fase angolanos, guineenses, cabo-verdianos que aqui sofreram e aqui morreram às mãos do que começou por ser uma ditadura portuguesa para os portugueses e, depois, foi uma ditadura imperial e colonial que reprimiu também os irmãos angolanos, guineenses, cabo-verdianos“, disse o chefe de Estado.

Marcelo apontou que, “num modelo inspirado nas mais sanguinárias ditaduras europeias daqueles anos 30”, 340 portugueses desde 1936 foram desterrados “para longe das suas terras, para longe das suas famílias, para irem morrendo lentamente na memória dos ideais que abraçavam, na memória das suas lutas, na memória dos seus próximos”.

“E nisso falhando. Porque mesmo quando o líder de um dos partidos fundamentais na resistência à ditadura aqui morreu, não morreu o ideal por que se debatia. E o mesmo se diga do que foi vivido em sofrimento, e em morte, por quantos a partir de 1961, irmãos nossos na língua, irmãos nossos na luta pela liberdade, pela democracia. Irmãos nossos na luta contra o império colonial aqui resistiram, e aqui resistiram as suas causas“, disse.

O responsável assinalou, assim, que ali “sabemos o que é a opressão”, onde existem “sinais visíveis do que é a repressão sanguinolenta”, que “não queremos que seja o presente e que não queremos que seja o futuro”.

“Não mais queremos que se possa repetir aquilo que foi vivido aqui durante quase 40 anos e vivido aqui, talvez da forma mais brutal, do que aquela com que foi vivida em Portugal, em Angola, na Guiné-Bissau e noutros estados irmãos. E por isso este Museu da Resistência, assim chamado desde 2000, é como todos os museus um museu vivo, que testemunha o que foi o sofrimento e a morte”, sublinhou.

E reiterou: “O povo português assume em plenitude a rejeição deste passado.”

Recorde-se que um total de 36 pessoas morreu no campo, a maioria de nacionalidade portuguesa, que contestava o regime fascista e que tinha sido presos na primeira fase do campo, entre 1936 e 1956.

A cárcere reabriu em 1962 com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, destinado a encarcerar anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde, altura em que morreram dois angolanos e dois guineenses.

A libertação de quem se opunha ao Estado Novo aconteceu poucos dias depois de o regime fascista ter sido derrubado com a revolução do 25 de Abril de 1974 em Portugal.

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