O secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, voltou a criticar, esta segunda-feira, a ausência do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e de outros governantes das áreas da Grande Lisboa afetadas pelos tumultos nas últimos semanas, na sequência da morte de Odair Moniz. 

 

Era muito importante que os membros do Governo viessem ao terreno, conhecessem os bons exemplos, conhecessem aquilo que não corre bem para, depois, terem as políticas certas“, afirmou o líder socialista, depois de uma visita ao projeto ‘Gira no Bairro — uma esquadra aberta à comunidade’, em Caxias, já depois de marcar presença nos bairros do Zambujal e da Cova da Moura, na Amadora. 

O Governo concertou com o senhor Presidente da República a vinda, exclusivamente, do senhor Presidente da República. O senhor Presidente da República, no quadro das suas competências, vai onde entende e a sua presença é muito importante, mas isso não exclui a importância de quem tem o poder executivo também estar no território“, acrescentou.

Pedro Nuno Santos referia-se ao facto de, na passada sexta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa ter estado no Bairro do Zambujal, na Amadora, onde visitou a esquadra da PSP e conversou com familiares de Odair Moniz, baleado mortalmente por um polícia na madrugada de 21 de outubro, no Bairro da Cova da Moura, na sequência do início de visitas informais na zona de Grande Lisboa.

Tínhamos ganhado e ganhávamos mais se o senhor primeiro-ministro também fizesse isso, se os seus ministro também fizessem isso e se não se limitassem apenas a chama-los para reuniões em gabinetes“, atirou. 

Para o secretário-geral do PS “não há justificação para a violência” das últimas semanas, mas é preciso “ter a capacidade, de com empatia, nos colocarmos nos sapatos dos outros”. Assim, defendeu que, “enquanto país”, “temos de facto muito trabalho a fazer”. 

“Quando eliminámos as barracas em Portugal, infelizmente, não o fizemos da melhor maneira”

Antes, Pedro Nuno Santos havia sublinhado que “sociedades seguras constroem-se com coesão, com igualdade, combate à desigualdade”.

“É possível termos a PSP e a comunidade de um bairro lado a lado”, disse, elogiando o trabalho desenvolvido no projeto ‘Gira no Bairro — uma esquadra aberta à comunidade’, mas também o trabalho do presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais. 

As realidades de município para município são muito diferentes (…) Julgo que os autarcas, cada um à sua maneira, com a sua experiência, com o seu saber, têm tentado dar as melhores respostas para fazer face a um fenómeno que o país nem sempre cuidou da melhor maneira“, apontou.

Nós, quando eliminámos as barracas em Portugal, infelizmente, não o fizemos da melhor maneira. E criámos mesmo alguns guetos, afastados dos serviços públicos, afastados do próprio Estado e isso gera sentimento de exclusão, de abandono“, frisou, considerando que hoje “temos uma perspectiva diferente e esse trabalho tem de ser feito”. 

João Leão? “Autarcas do PS estarão sempre ao lado da integração das comunidades”

Novamente interrogado sobre a polémica que envolveu o presidente da Câmara de Loures, o socialista João Leão, que afirmou que quem participou em distúrbios deveria ser despejado das habitações sociais, Pedro Nuno Santos recusou alongar-se sobre o tema e rematou: “Posso-vos garantir que os autarcas do PS, porque faz parte da nossa identidade politica e ideológica, estarão sempre ao lado da integração das comunidades, da coesão, porque sabem todos muito bem que a forma de garantirmos estabilidade, segurança nas comunidades, é também intervindo do lado da coesão e da integração e todos os autarcas fazem isso no PS”. 

Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal foi baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro e morreu pouco depois, no hospital, em Lisboa.

Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar responsabilidades, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.

A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos, e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.

Nessa semana registaram-se tumultos no Zambujal e noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados e vandalizados autocarros, automóveis e caixotes do lixo, somando-se cerca de duas dezenas de detidos e outros tantos suspeitos identificados. Sete pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade.

O procurador-geral da República pediu celeridade na investigação à morte do cidadão e rapidez nas perícias da Polícia Judiciária e do Instituto Nacional de Medicina Legal.

[Notícia atualizada às 18h34]

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