“Este orçamento, na verdade, regressa a uma tese económica que tem sido a origem da nossa desgraça e não da nossa evolução. É a ideia que dando mais aos que já são mais beneficiados, beneficiando mais os jovens que têm mais altos salários, beneficiando mais as empresas que são maiores, os pequenos irão beneficiar de qualquer coisa”, sustentou o porta-voz do Livre Rui Tavares, na intervenção de encerramento do debate orçamental, na Assembleia da República.

 

Recordando o padre António Vieira – citado pelo primeiro-ministro na abertura do debate orçamental – o deputado do Livre lamentou que o seu nome seja evocado sem que seja lido e conhecido por quem o cita, referindo que o escritor foi, na altura, considerado “tão radical como hoje”.

Rui Tavares citou o escritor português, afirmando que o mesmo dizia que o “primeiro grande defeito dos peixes é que não só se comem uns aos outros” como “são os grandes que comem os pequenos” e, por isso, “não bastam cem (peixes) pequenos, nem mil para um só grande”.

Tavares considerou que, apesar da “História extraordinária” de Portugal, “nessa história nunca houve elevador social a não ser após o 25 de Abril”, defendendo que o “Estado social foi o elevador social para muitos” e que é “o grande défice que nos últimos anos fiou mais descuidado”.

“O sr. deputado [Hugo Soares (PSD)] disse há poucos dias que apenas depois de o bolo crescer o podemos distribuir, esquecendo que o bolo tem estado a crescer em termos nacionais e internacionais há muitos anos e que a distribuição está cada vez pior. E que nos países onde essa distribuição é feita, o bolo cresce muito mais, porque as economias crescem a partir de baixo. E é por isso que o Livre tem para este orçamento uma visão alternativa”, disse, dirigindo-se ao líder parlamentar social-democrata.

Para Rui Tavares, a proposta orçamental deveria ter sido mais ecológica, social e de inovação, contendo medidas como a da herança social para todas as crianças nascidas em Portugal, a melhoria do conforto energético nas casas portuguesas ou a implementação de um centro nacional de transferência de conhecimento.

O líder do Livre reiterou ainda a proposta para a criação de uma Agência Nacional para a Inteligência Artificial – uma medida que recebeu a abertura do primeiro-ministro, mas num processo paralelo ao orçamento – afirmando que, no passado, não foi aprovada por “demérito” de quem não se juntou ao Livre, incluindo o PSD.

“No futuro podemos aprovar. E que Portugal seja ao menos um dos primeiros países da União Europeia a estar na linha da frente da inovação”, apelou.

Rui Tavares concluiu a intervenção afirmando que o país precisa de ter “oportunidades económicas para quem vem de baixo”, acrescentando que “com aquilo que os grandes podem e os super ricos podem hoje em dia no mundo, há rendimento para que os pequenos possam mais”.

[Notícia atualizada às 16h59]

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