O porta-voz do Livre, Rui Tavares, considerou, esta terça-feira, que a Aliança Democrática (AD) e a Iniciativa Liberal (IL) têm “de clarificar, de uma vez por todas, se contam com o Chega politicamente ou aritmeticamente”, face ao cenário de grande incerteza em que política portuguesa se vê mergulhada no rescaldo das eleições legislativas. Ainda assim, o responsável defendeu que, numa altura em que votos das comunidades portuguesas ainda não foram contabilizados, a Esquerda “é o bloco mais coeso e mais amplo [para] proporcionar uma solução de governo”.

“Sigo a Constituição e acho que é nas conversações com o Presidente da República que se vê onde é que temos as maiorias ou os apoios governativos no Parlamento mais amplos e mais coerentes para sustentar o governo. Sabemos que, neste momento, e embora a Esquerda tenha mais votos e mais mandatos do que a AD e a IL, que é o outro campo que se pré-anunciou como estando disposto a negociar, não tem uma maioria absoluta. Ou seja, a Direita e a extrema-direita juntas podem apresentar uma moção de rejeição e rejeitar um governo de Esquerda, como aconteceu em 2015, mas ao contrário. A Direita da AD e da IL tem de clarificar de uma vez por todas se conta com o Chega politicamente ou aritmeticamente”, defendeu Rui Tavares, em entrevista à CNN Portugal.

É que, na ótica do historiador, as reiteradas rejeições do presidente do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, quanto a um entendimento com o coletivo de André Ventura só poderão ser fiáveis com “um acordo por escrito”, já que “se a AD e a IL [votarem] a favor de uma moção de rejeição [de um governo de Esquerda] do Chega, isso significa que, na prática, contam aritmeticamente com o Chega, e contam com ele politicamente também”.

“Temos o campo da Esquerda, que neste momento tem mais votos e mais mandatos do que o campo da Direita democrática, a AD e a IL, e temos o campo do Chega, com o qual toda a gente disse que não negociaria para governo. O que é normal é que, a partir do momento em que o Presidente da República recebe os partidos, deve procurar entre esses partidos qual é que é o bloco mais coeso e mais amplo que possa proporcionar uma solução de governo”, disse.

Além disso, Rui Tavares apontou ser necessário “respeitar os processos democráticos”, particularmente num momento em que pode ser possível reverter os resultados com os votos das comunidades portuguesas no estrangeiro. Considerou, por isso, que o eventual empate entre o Partido Socialista (PS) e o PSD “não é tão relevante quanto saber qual é que é o bloco mais relevante na Assembleia da República”, razão pela qual admitiu que uma solução à Esquerda “é a maneira mais correta e parlamentar de se fazer as coisas”.

A bloquista defendeu que “os partidos de Esquerda têm obrigação de manter abertas as portas do diálogo e de procurar convergências”.

Notícias ao Minuto | 20:34 – 12/03/2024

“Agora, o Livre não pode obrigar outros partidos a irem para o governo se quiserem ir para a oposição”, complementou.

Quanto à audição de quarta-feira com Marcelo Rebelo de Sousa, o historiador garantiu que questionará o chefe de Estado “sobre a razão de fazer estas reuniões antes de estarem contados todos os votos, numa altura em que a contagem desses votos ainda é determinante”. O responsável pretende ainda apurar o motivo pelo qual o Presidente receberá coligações, ao contrário do que está estipulado na Constituição, que prevê a audiência de partidos.

Rui Tavares mostrou-se também recetivo ao convite da coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, para a realização de reuniões com o PS, o Partido Comunista Português (PCP), o Livre e o PAN, tendo em conta “o risco de um retrocesso e uma ameaça aos direitos sociais” que o crescimento da extrema-direita representa. Garantiu, nessa linha, que o país poderá esperar “articulação e coordenação” por parte destes partidos.

E indicou: “Tivemos um discurso político da divisão e de medo, da extrema-direita, que foi muito eficaz, porque a extrema-direita cresceu nestas eleições. E tivemos um discurso político que o Livre preconizou, de proposta de futuro e, de tanto quanto o possível, fazer um discurso o mais cívico, o mais democrático, afirmando valores de progresso e de ecologia, que cresceu o equivalente ou até mais à proporção do que a extrema-direita. Aquilo que é importante em conjunto com toda a Esquerda dinamizar é que esse discurso de proposta de futuro, de convergência e de união seja um discurso predominante daqui para o futuro.”

Recorde-se que a AD, que junta o Partido Social Democrata (PSD), o CDS – Partido Popular e o Partido Popular Monárquico (PPM), obteve 29,49% dos votos nas eleições de 10 de março, tendo conseguido arrecadar 79 deputados na Assembleia da República. O PS, por seu turno, amealhou 77 deputados (28,66%), seguindo-se o Chega, com 48 deputados eleitos (18,06%).

A IL, com oito lugares, o BE, com cinco, e o PAN, com um, mantiveram o número de deputados desta legislatura. Já o Livre passou de um para quatro eleitos, enquanto a CDU perdeu dois lugares, ficando com quatro deputados.

Sublinhe-se que ainda estão por apurar os quatro deputados pela emigração, o que só acontecerá a 20 de março. Só depois dessa data, e de ouvir os partidos com representação parlamentar, é que Marcelo Rebelo de Sousa indigitará o novo primeiro-ministro.

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