A obra tem por público-alvo o terceiro ciclo do ensino básico e os ensinos secundário e superior, por isso terá sessões para o público em geral e para escolas. E por isso tem também um cenário em branco, com uma tenda, um colchão, e um ator, chegado aos 30 anos, que convida os espectadores a entrar no seu mundo e a conhecer o sonho que acalenta, de se tornar um cantor pop.

 

“Last Call” é também, literalmente, uma chamada feita ao público, de forma pontual, em que o ator fala das dores de crescimento e do processo de vitimização a que se habituara e por que muitas vezes passam jovens adultos. Sonhos acalentados e desfeitos. Mas apesar de uma linguagem pró depressiva inicial, a peça acaba afinal por se tornar num apelo à vida, disse à agência Lusa Leonardo Garibaldi, no final de um ensaio.

O espetáculo fala sobre “a chegada à idade adulta” que é “quase como uma última chamada para crescer”. “E também é um bocadinho como a ‘last call’, que acontece para sempre na vida”.

“É como se as dores de crescimento fossem constantes. Dores diferentes, quando mais novos, mais físicas e intelectuais, claro. E, depois, é sobre aprender a viver, nos 30, nos 40 anos”, frisou o ator.

O nome de “Last Call”, prosseguiu Garibaldi, ocorreu-lhe quando concorria a uma bolsa de criação – e era a última vez que o podia fazer.

A personagem vai assim desfiando etapas, numa peça que, não sendo biográfica, tem muitas coisas da vida do seu autor.

A família não fica esquecida. É lugar de apoio, mas também pode ser de trauma. A ação remete assim para o conforto que a família representa, mas também para o que de aprendizagem pode inibir, para o que das coisas novas e de descobertas do mundo pode bloquear.

A família é um “sítio que protege até certo ponto, quando não estamos só lá naquele sítio”, observou.

Para Leonardo Garibaldi, “Last Call” é uma “analogia da vida”, um alerta sobre “se estivermos sempre fechados na nossa bolha, não conseguimos ver o que está além de nós”.

“Last Call” congrega experiências que Garibaldi considera comuns. Há uns meses, pôs um questionário nas redes sociais, para a preparação do espetáculo. A ideia era perceber gestos diários. Por exemplo: músicas preferidas, se estavam associadas ou não a algum acontecimento. As respostas não foram usadas, mas permitiram-lhe fazer uma espécie de estatística.

Num espetáculo em que, à medida que a personagem cresce, vai também aprendendo a aceitar o sofrimento, integrando a dor e aprendendo com ela, o ator espera que “Last Call” sirva “para que as pessoas não se considerem vítimas do mundo ou do sistema e para não alimentarem a vitimização”.

Afinal, “quando abrimos os olhos vemos o apoio que temos à nossa volta”, afirmou.

“Às vezes, estamos [tão presos ao papel] de vítima que não conseguimos ver que os nossos amigos estão lá para nos apoiar, que as nossas famílias” estão presentes, que “temos mais uma vez esse privilégio”.

“Last Call”, uma produção de Os Possessos, com o S. Luiz Teatro Municipal e Centro Cultural Gil Vicente, no Sardoal, tem criação e interpretação de Leonardo Garibaldi e encerra a trilogia iniciada em 2018, com “Youth”, a que se seguiu “A morte do meu cão Juno”, em 2020.

A peça terá cinco récitas na sala Bernardo Sassetti, de 02 a 06 de outubro, sempre às 19:00, e mais duas sessões para escolas, nos dias 03 e 04 de outubro, às 14:30.

An*dre neely e Leonor Buescu contribuíram para o texto e apoiaram a criação e dramaturgia. Na consultoria artística estiveram Catarina Rôlo Salgueiro, Isabel Costa e João Pedro Mamede, de Os Possessos.

O desenho de luz é de Diana dos Santos, a sonoplastia de Diogo Melo, a cenografia de Tatiane Oliveira e Margarida Silva e os figurinos de Raquel Guerreiro.

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