No dia 27 de junho de 2023, às 08h18 da manhã, Nahel Merzouk, de 17 anos e origem argelina, foi obrigado a parar numa operação ‘stop’ em Nanterre, nos arredores de Paris, à qual tentou fugir, acabando por ser baleado pela polícia.

O incidente desencadeou uma vaga de protestos nos subúrbios de Paris, e em várias cidades de França, que incluiu centenas de edifícios danificados, milhares de automóveis queimados e ataques físicos a autarcas, levando ao cancelamento de vários festivas e à mobilização de cerca de 45 mil agentes policiais para conter os tumultos.

Hoje, pouco mais de um ano depois, a mãe de Nahel organizou uma marcha silenciosa em Nanterre, que foi acompanhada por várias centenas de pessoas que mostravam cartazes em que se lia “a polícia mata”, “vamos abolir a polícia” e, sobretudo, “justiça para o Nahel”.

À Lusa, Mahmoud, de 16 anos, disse que, apesar de não ter conhecido Nahel, decidiu hoje juntar-se à marcha silenciosa organizada pela família para “pedir justiça”, lamentando que o agente que matou o jovem tenha só ficado “dois ou três meses preso”.

“Nós estamos aqui para dizer que queremos que a verdade venha ao de cima e que esse agente fique com uma pena de prisão perpétua”, disse Mahmoud, vestido com uma camisola branca com as palavras “justiça para Nahel, executado a 27/06/2023”.

Florian, agente de 38 anos que disparou a bala que matou Nahel, esteve em prisão preventiva durante cinco meses, tendo acabado por sair da prisão em novembro de 2023, estando atualmente sob controlo judiciário e impedido de porte de arma.

“Passado um ano, vim aqui para mostrar que ainda cá estamos, que o que se passou é muito chocante e que ainda nos emociona muito”, diz à Lusa Sirinne, militante do Partido Europa Ecologia Os Verdes (EELV, sigla em francês), que veio à marcha com um cartaz em que se lê “a pena de morte foi abolida, mas nós continuamos a temer pelas nossas vidas”.

“Os meus irmãos mais novos são vítimas, todas as semanas, de violências policiais e eu, sobretudo desde que o Nahel morreu, tenho sempre medo que um deles seja o próximo Nahel. Por isso, é muito importante estarmos aqui”, afirma Sirinne.

Nas mesmas ruas onde, um ano antes, havia carros calcinados e montras partidas, muitos destes jovens consideram agora que os protestos despoletados mostraram ao Governo o poder que os bairros populares podem ter.

“O movimento mudou a relação de forças, apesar da repressão. Houve muitos jovens que foram detidos, o que também impediu a expansão do movimento, mas, ainda assim, o movimento foi muito mais poderoso do que o de 2005”, diz à Lusa Bouna, que pertence ao coletivo Frente Unida das Imigrações dos Bairros Populares.

Na véspera da primeira volta das eleições legislativas – que, segundo as sondagens, deverão dar uma maioria à União Nacional (Rassemblement National, em francês) – Myriam, de 36 anos, considera que o movimento de há um ano teve um “grande impacto e, com o que vai acontecer em França, vai ainda ter o dobro ou o triplo do impacto”.

“Estamos todos à espera do resultado das legislativas e sabemos que a União Nacional está às portas do poder e isso nos mete-nos ainda mais pressão”, referiu.

No final de uma marcha em que se ouviram ouvindo cânticos como “somos todos antifascistas” ou “enquanto não houver justiça, não haverá paz”, a mãe de Nahel pegou num microfone para salientar que o seu filho “foi executado” e pedir justiça.

“Quero que a memória do meu filho ilumine a palavra ‘justiça’. É muito difícil para mim saber que os dois agentes policiais [envolvidos na morte do jovem] andam por aí e que posso estar a andar na rua e cruzar-me com eles. É algo que me dilacera e só quero uma coisa: justiça”, disse.

Veja as imagens na galeria acima.

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