“A chapada”, lê-se na manchete do jornal económico Les Echos, com uma imagem do líder da União Nacional (Rassemblement National, em francês), Jordan Bardella. O jornal fala agora num “quebra-cabeças para encontrar uma maioria governativa na Assembleia Nacional” após os resultados das eleições legislativas de domingo.

“Três blocos, nenhum com a maioria, vão ter de coexistir, tendo como desafio fazer avançar o país. Como? Impossível vê-lo de maneira clara agora. Mas o resultado de domingo deixa antever a possibilidade de uma coligação, vacilante e incerta, entre a esquerda e os ‘macronistas'”, lê-se no editorial deste jornal.

A mesma dúvida surge na manchete do jornal Aujourd’hui en France que, com uma foto de Emmanuel Macron, pergunta “e agora, fazemos o quê?”. No editorial, o jornal considera que, se o Presidente da República pretendia uma “clarificação com estas eleições”, a situação só se tornou “mais nebulosa e confusa” após os resultados de domingo.

“Perplexos perante resultados que tornam a Assembleia ingovernável, os franceses têm dificuldades em ver para onde é que nos estamos a dirigir”, refere este jornal, que pergunta em particular que medidas vão ser implementadas em temas como o apoio à Ucrânia, a lei da imigração ou a política fiscal.

Por sua vez, o jornal Le Monde fala, na sua edição ‘online’, numa “Assembleia Nacional sem maioria”, advertindo que pode estar em causa um “risco de paralisia”, em particular porque as estratégias políticas com vista às eleições presidenciais de 2027 podem “hipotecar o futuro” da legislatura que agora começa.

“Forçado a salvar o que resta do seu mandato, Macron está a explorar a possibilidade de uma coligação com outras forças políticas. Mas a tarefa afigura-se difícil, tendo em conta a homogeneidade dos quatros blocos e a rejeição de qualquer iniciativa ‘macronista’ por qualquer dos outros partidos, após uma campanha particularmente virulenta”, lê-se.

Já o jornal conservador Le Figaro não tem dúvidas em qualificar a União Nacional como “o grande perdedor da noite”, mas também salienta que, um mês apenas após a dissolução do parlamento, “o chefe de Estado se encontra perante uma “assembleia ingovernável”.

“A clarificação que [Macron] tinha pedido precipita a França, sem dúvida durante muito tempo, na maior das confusões”, lê-se no editorial do Figaro, com o título “França de direita, mas com uma direção à esquerda”.

Por sua vez, o jornal católico La Croix fala numa “França que diz não ao RN” e, no seu editorial, destaca o “sobressalto republicano” que se fez sentir nas urnas e que, agora, deve ter consequências na maneira de governar o país.

“É crucial que os franceses não sejam de novo reduzidos ao simples papel de espetadores, nem que sejam esquecidas as frustrações que alimentam o voto na extrema-direita. O sobressalto republicano mostra uma França generosa, que não cedeu ao canto do medo: é com ela e para ela que o futuro deve ser construído”, defende este jornal.

Já à esquerda, o Libération considera que a vitória da esquerda foi “uma surpresa divina” e pede agora que os partidos que compõem a Nova Frente Popular (Nouveau Front Populaire, em francês) estejam “à altura”.

“A sua maioria pode ser só relativa, mas obriga-a a estar à altura. E estará à altura se assumir os seus valores e o seu programa que promete mais igualdade, mais atenção às questões sociais”, sublinha o jornal, que pede ainda aos partidos para “não esquecerem que a extrema-direita está mais forte do que nunca”.

O comunista L’Humanité fala numa “esperança que renasce” e, no seu editorial, também avisa os partidos de esquerda que é agora que “tudo começa”, defendendo que o próximo Governo tem “de respeitar a vitória surpresa da esquerda e, por isso, o seu programa”.

“A frente republicana permitiu fazer recuar a onda da extrema-direita, mas foi por pouco e pode ter sido a última vez. Sobretudo se o Presidente da República estiver a pensar numa enésima ‘combinazione’ política, uma aliança de tudo e o seu contrário que prosseguiria a sua política e nos levaria a todos a uma queda que só reforçaria a narrativa da extrema-direita”, avisa o jornal.

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