Na segunda volta das eleições legislativas que vai realizar-se no domingo e em que estão em causa os 577 lugares do parlamento, a União Nacional (RN, extrema-direita) poderá conseguir entre 190 e 220 lugares, segundo uma sondagem do instituto Toluna Harris Interactive, o que seria insuficiente para alcançar a maioria absoluta (289 lugares) e poderá impedir que o candidato do partido, Jordan Bardella, se torne primeiro-ministro.

A coligação que une os partidos de esquerda, Nova Frente Popular (NFP), poderá obter entre 159 a 183 lugares e a coligação presidencial Juntos (Ensemble, em francês) 110 a 135 lugares.

Nos últimos dias, a líder do RN, Marine Le Pen, tem promovido a discussão sobre quem manda na defesa e na diplomacia francesas, nomeadamente se devem continuar a ser responsabilidade do Presidente, Emmanuel Macron.

Para Victor Pereira, investigador da Universidade Nova de Lisboa, Marine Le Pen “está a preparar uma cohabitação e a tentar, no quadro das eleições, mostrar aos eleitores que o primeiro-ministro Jordan Bardella terá poder não apenas no âmbito interno, mas também na política externa e europeia”, que não serão uma continuidade de Emmanuel Macron.

Esta discussão põe em causa, por exemplo, o apoio à Ucrânia por parte da França, até agora um dos maiores aliados de Kiev na guerra com a Rússia.

“No passado, Marine Le Pen já foi à Rússia e encontrou-se com [Vladimir] Putin, os bancos russos apoiaram financeiramente o RN, por isso, há no RN uma ‘putinofilia’ que com a invasão da Ucrânia é menos visível, mas que ainda existe”, disse Victor Pereira à Lusa, acrescentando que para o Presidente russo seria benéfico que o RN chegasse ao poder, para “enfraquecer a comissão pró-ucraniana”.

Na NFP, “tanto o PS como os Verdes sempre apoiaram a Ucrânia”, mas o líder da França Insubmissa (LFI), Jean-Luc Melenchon, “tem um discurso de uma parte da esquerda francesa que é muito anti-NATO”, adiantou o investigador.

“No entanto, Mélenchon e a LFI criticaram Putin e apoiaram a oposição a Putin e no programa da Nova Frente Popular está escrito claramente que apoiará a Ucrânia e vai vender-lhe armas, não há propriamente uma dúvida, se chegarem ao poder, de uma continuidade da política que foi levada a cabo por Emmanuel Macron”, referiu o politólogo, doutorado em História Contemporânea pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris.

Uma das propostas mais polémicas do RN, é querer impedir que os cidadãos com dupla nacionalidade possam aceder a certos empregos na função pública, o que pode prejudicar “mais de três milhões de pessoas com nacionalidade francesa e outra nacionalidade”, entre elas portuguesa.

“Há inúmeras dúvidas que vão nascer e talvez a mais importante seja do ponto de vista democrático: Será que o RN vai respeitar a democracia, os contrapoderes, a liberdade dos media? Há duvidas muito fortes sobre o respeito pela democracia e pelo Estado de direito”, afirmou o politólogo.

Para Victor Pereira, “a aposta de Emmanuel Macron [de convocar eleições] falhou redondamente, no sentido em que pensava fazer o que tinha conseguido em 2017 e 2022, isto é, ao apresentar a pessoa que pode defender a democracia ou a República perante a extrema-direita”.

Para além disso, a nível internacional “a França tem um prestígio, um eco muito importante, é o país da revolução, da República”, e pode ser o país em que a extrema-direita chega ao poder pela primeira vez na história depois de eleições, “um sinal de que isso é possível em países onde a tradição democrática é antiga”, disse Victor Pereira.

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