“A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde não investigou o comportamento do Presidente de República ou da Casa Civil, do primeiro-ministro, da ministra da Saúde ou de secretário de Estado da Saúde, nem tampouco de nenhum deputado da Assembleia da República. Não o pode fazer”, disse António Carapeto.

 

Na sua audição na comissão parlamentar ao caso das gémeas luso-brasileiras tratadas com o medicamento Zolgensma no Hospital de Santa Maria, em Lisboa (2020), o responsável esclareceu na declaração inicial que “não são atribuições” da IGAS “avaliar se tais comportamentos podem consubstanciar um crime ou aferir responsabilidade política de alguém”.

António Carapeto, inspetor-geral das Atividades em Saúde, esteve esta terça-feira no Parlamento, onde foi ouvido no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso das gémeas.

Notícias ao Minuto com Lusa | 15:30 – 29/10/2024

“Se houve interferência política ou não, acho que deve ser a Assembleia da República a decidir. Não é possível que nenhum político interfira nas minhas decisões. Não é possível. É totalmente impossível, porque eu nunca aceitaria isso”, salientou.

António Carapeto, que foi inquirido pelos deputados mais de duas horas, recordou, como já tinham dito as inspetoras do IGAS, que o hospital de Dona Estefânia não foi objeto de investigação, porque “não abriu as portas às crianças”.

“Pedimos documentação e fomos ouvir as pessoas do Centro Hospitalar de Lisboa Central, mas o Centro Hospital de Lisboa Central não abriu as portas às crianças, e era isso que queríamos saber. […] As inspetoras estão a raciocinar em termos de processo. Só tem a porta aberta do Centro Hospital de Lisboa Norte e é o que é factual”, justificou o responsável, após ser interpelado por Joana Cordeiro, da IL.

À deputada liberal, o inspetor adiantou que a IGAS enviou a documentação “muito cedo” para o Ministério Público a pedido do próprio.

Lembrando a conclusão do relatório da IGAS que aponta para a irregularidade na marcação da consulta das crianças, António Carapeto, que assumiu cargo de inspetor-geral em 2020, observou que as “consultas são agendadas no centro de saúde e nas unidades locais de saúde da aérea de residência”.

“É assim que o Serviço Nacional de Saúde [SNS] deve funcionar, se não funciona assim, funciona mal”, disse, em resposta ao deputado Livre Paulo Muacho.

Sobre se houve irregularidades nos documentos disponibilizados pela Presidência da República, o dirigente reiterou que não avaliou comportamento dos órgãos de soberania do Estado, mas das estruturas do SNS.

“O que considerámos inadequado foi a forma como a consulta foi agendada. […] Nós estamos a avaliar se o SNS agiu de forma correta ou incorretamente”, disse ao deputado do PSD António Rodrigues, acrescentando que pediu documentação à Casa Civil da Presidência da República “ao abrigo de um dever de colaboração”.

Por seu lado, a deputada socialista Ana Abrunhosa acusou António Carapeto de não estar a corroborar o que está no relatório, quando refere que se as crianças fossem atendidas no Grupo Lusíadas seriam encaminhadas para o Hospital de Santa Maria.

“Depende sempre da avaliação que os médicos fazem. […] Não podemos dizer com certeza que se tivessem sido atendidas ali [no Lusíadas], seriam encaminhas [para o Santa Maria]. Mas isso era possível de acordo com as regras”, realçou.

Citando o relatório, a deputada do PS referiu que se “as crianças tivessem sido atendidas no Lusíadas, teriam acabado no sítio certo”.

O inspetor-geral recordou que a IGAS está “perto do fim do processo de inspeção” ao Hospital de Santa Maria, à Secretaria-Geral do Ministério da Saúde e ao Infarmed”, acrescentando que, “se não cumprirem as recomendações”, pode ser instaurada uma diretiva específica.

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