A descrição desta ave, aproximadamente do tamanho de um estorninho, foi publicada na revista Nature e, segundo os investigadores, o crânio completo foi preservado quase intacto, uma raridade para qualquer ave fóssil, mas sobretudo para uma tão antiga.

 

Esta particularidade torna-o uma das descobertas mais significativas deste tipo, noticiou na quarta-feira a agência Efe.

A extraordinária preservação tridimensional do crânio permitiu aos investigadores, liderados pela Universidade de Cambridge (Reino Unido) e pelo Museu de História Natural do Condado de Los Angeles (EUA), reconstruir digitalmente o cérebro da ave, a que deram o nome de ‘Navaornis héstias ‘.

Os Navaornis viveram há cerca de 80 milhões de anos no que é hoje o Brasil, antes da extinção em massa que exterminou todos os dinossauros não-aviários.

Os investigadores afirmam que a sua descoberta pode ser uma espécie de ‘pedra de roseta’ para determinar as origens evolutivas do cérebro aviário moderno, indicou a Universidade de Cambridge em comunicado.

O fóssil preenche uma lacuna de 70 milhões de anos na compreensão de como o cérebro das aves evoluiu entre o Archaeopteryx, com 150 milhões de anos, e as aves modernas.

As semelhanças com os pássaros modernos incluem a falta de dentes, olhos grandes e um crânio alto e globular.

A investigação sugere que o Navaornis tinha capacidades cognitivas mais avançadas do que o Archaeopteryx, mas a maioria das áreas do cérebro, como o cerebelo, eram menos desenvolvidas, sugerindo que ainda não tinha desenvolvido os complexos mecanismos de controlo de voo das aves modernas.

“A estrutura cerebral do Navaornis é quase exatamente intermédia entre o Archaeopteryx e as aves modernas, (…) a peça em falta encaixa-se perfeitamente”, detalhou Guillermo Navalón, de Cambridge.

As aves modernas têm algumas das capacidades cognitivas mais avançadas do reino animal, rivalizadas apenas pelos mamíferos, e os cientistas têm tentado durante anos compreender como e quando estes cérebros únicos evoluíram.

“Estávamos à espera da descoberta de um fóssil exatamente como este”, frisou, por sua vez, Daniel Field, também de Cambridge.

Embora à primeira vista o crânio de Navaornis se assemelhe ao de um pequeno pombo, uma inspeção mais detalhada revelou que era membro de um grupo de aves primitivas chamadas enantiornites ou “aves opostas”.

Os ‘pássaros opostos’ divergiram das aves modernas há mais de 130 milhões de anos, mas tinham penas complexas e eram provavelmente voadoras competentes como as aves modernas. As capacidades cognitivas podem ter dado a Navaornis uma vantagem na hora de encontrar comida ou abrigo.

Embora a descoberta seja um avanço significativo, os investigadores dizem que é apenas o primeiro passo na compreensão da evolução da inteligência das aves.

Navaornis deve o seu nome a William Nava, diretor do Museu de Paleontologia de Marília, no estado de São Paulo, que descobriu o fóssil em 2016 num sítio na cidade vizinha de Presidente Prudente.

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