“A Fectrans repudia as declarações do Governo, através do ministro da Presidência, que, sem argumentos, tentou passar a ideia de que os acidentes ferroviários têm de ser combatidos com o agravamento das contraordenações dos ‘maquinistas que conduzam sob o efeito de álcool'”, afirmou a federação, em comunicado.
A estrutura representativa dos trabalhadores disse também ter solicitado uma reunião ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, para que o Governo torne público os dados e fundamentos das afirmações do ministro Leitão Amaro.
O ministro da Presidência afirmou, em conferência de imprensa após o Conselho de Ministros, na quinta-feira, que “não é muito conhecido, mas Portugal tem o segundo pior desempenho ao nível do número por quilómetro de ferrovia de acidentes que ocorrem” e que tem “um desempenho cerca de sete vezes pior do que a primeira metade dos países europeus”, explicando que o Governo aprovou uma proposta de lei que reforça “as medidas de contraordenação para os maquinistas deste transporte ferroviário, criando uma proibição de condução sob o efeito de álcool”.
“Estando Portugal numa das piores situações em termos de nível de acidentes, tem do quadro contraordenacional mais leve e mais baixo da Europa”, rematou o governante.
A Fectrans considerou que o Governo deve um pedido de desculpa aos ferroviários e que as declarações de António Leitão Amaro transmitem para a opinião pública uma ideia de insegurança “que não tem qualquer fundamento e é ofensiva” para os trabalhadores que “asseguram com profissionalismo e dedicação um serviço público com padrões de qualidade, que são postos em causa pela falta de medidas para resolver os problemas estruturais da ferrovia”.
Os sindicatos acusaram o ministro de apresentar uma justificação para os acidentes sem qualquer fundamentação e realçaram que os dados de entidades competentes mostram que a maioria dos acidentes ferroviários ocorre devido à degradação do sistema ferroviário nas suas diversas vertentes e por motivos externos, nenhum deles resultando de condução sob o efeito de álcool.
“As declarações são graves e desrespeitosas para com os trabalhadores ferroviários, que se esforçam diariamente na prestação de um serviço de qualidade, esforço que recentemente até foi reconhecido pelo ministro da tutela em carta dirigida aos trabalhadores da CP”, lembrou a Fectrans.
Também o Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro Portugueses (SMAQ) considerou, na quinta-feira, que o ministro da Presidência relacionou de forma despropositada os maus resultados de segurança ferroviária e a taxa de álcool dos maquinistas e exigiu que se retrate.
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