“Apelamos à UNICEF, enquanto defensora das crianças e jovens de todo o mundo, para que use a sua influência para defender os direitos das 70 crianças e adolescentes venezuelanos afetados. Elas, como todas as crianças do mundo, merecem crescer num ambiente de liberdade, respeito e oportunidade, em vez de estarem submetidas ao medo, à repressão e à tortura”, lê-se numa carta entre hoje na sede daquele organismo em Caracas.

 

No documento, os familiares dos detidos explicam que o objetivo da UNICEF “é promover o respeito e a garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes”.

“No entanto, consideramos alarmante que não se tenham pronunciado nem tomado ações pertinentes relativamente às detenções arbitrárias de menores na Venezuela, para além do tratamento desumano e degradante que têm estado a sofrer nos últimos três meses”, sublinham.

Os familiares pedem ainda à UNICEF que aceda aos centros de detenção e constate, de maneira independente e direta, o estado físico e mental dos adolescentes detidos, para que de modo “urgente” lhes seja garantido o acesso a atenção médica e psicológica adequada.

Entre as assinantes do documento estão Katherine Martínez e Nérida Ruiz, mães de dois adolescentes que foram detidos no âmbito dos protestos contra os resultados oficiais das eleições presidenciais venezuelanas e que são acusados dos crimes de incitamento ao ódio e ao terrorismo.

“A resposta que nos deram [na UNICEF] é que vão dar celeridade aos nossos pedidos. Me perguntaram sobre os detidos. Me perguntaram como é que estava [o filho detido] e se tinha sido torturado. Disseram que vão fazer o possível para responder aos nossos pedidos”, disse Nérida Ruiz aos jornalistas após conversar com os representantes da UNICEF.

Entre os casos denunciados está o de Irene Corrado, de 17 anos de idade, que em 11 de setembro deveria apresentar-se no ato de grado como modelo de uma agência de moda, o que não pôde fazer por estar detida desde 4 de agosto, por fazer parte de um grupo de WhatsApp de adolescentes.

Radicada em Valência, no estado de Carabobo (centro do país), queria estudar Direito, mas mudou de intenção devido à sua detenção por considerar que “o sistema de justiça venezuelano não é justo”.

A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Nicolás Maduro com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.

A oposição venezuelana e diversos países da comunidade internacional denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente, o que o CNE diz ser inviável devido a um “ciberataque” de que alegadamente foi alvo.

Os resultados eleitorais foram contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo de mais de duas mil detenções e de mais de duas dezenas de vítimas mortais.

Segundo a ONG Fórum Penal (FP), a Venezuela tem 1.916 cidadãos presos por motivos políticos, dos quais 240 são mulheres e 70 são adolescentes com idades compreendidas entre 14 e 17 anos.

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