“Portugal deixou de ser uma exceção na UE, se é que ainda era. A ascensão da extrema-direita é uma tendência que está na UE há muito tempo e chegou a Portugal mais tarde, mas a verdade é que o Chega passou de um deputado em 2019 para 48 nas eleições de ontem [domingo]”, diz à Lusa o diretor-adjunto do European Policy Centre (Centro de Política Europeia — EPC), Ricardo Borges de Castro.

Um dia após as eleições legislativas de domingo, o responsável aponta que “a fragmentação partidária também já era uma tendência que estava a acontecer na Europa” e que agora chegou ao país, onde normalmente “dois partidos eram sempre os mais votados”, o PSD e o PS.

“Haver coligações é uma coisa muito natural noutros países da UE, como na Bélgica e na Holanda, e a fragmentação nem sempre é má porque as pessoas têm mais opções para escolher, mas o que tem faltado é liderança” política, observa Ricardo Borges de Castro, antecipando “condições de governabilidade muito baixas”.

De acordo com o também responsável pelo programa “A Europa no Mundo” do EPC, os votos no Chega representam “uma grande insatisfação e protesto pelos quase nove anos de PS no Governo”, situação que “o Chega capitalizou”.

Para Ricardo Borges de Castro, o resultado das eleições legislativas em Portugal “confirma o que se antecipa para o Parlamento Europeu”, de que os partidos predominantes — como o Partido Popular Europeu, o Partido Socialista Europeu, os liberais e os Verdes — terão “menos poderes e menos votos”.

“Provavelmente o que vamos ver é que haverá maior representatividade [na assembleia europeia] dos extremos” políticos, antevê o especialista, admitindo que o Chega eleja, quando atualmente não está representado no Parlamento Europeu.

A Aliança Democrática (AD), que junta o PSD, CDS-PP e PPM, obteve uma vitória tangencial, com 29,5% e 79 deputados, mais dois do que o PS nas eleições legislativas de domingo em que o Chega quadruplicou o numero de deputados face a 2022.

O partido de extrema-direita passou de 12 para 48 parlamentares e, com mais de um milhão de votos, o presidente, André Ventura, falou num “resultado histórico” e insistiu em integrar uma solução de governo, recusado uma vez mais pelo líder do PSD.

Luís Montenegro já disse que espera ser indigitado primeiro-ministro e, sem entrar em pormenores, reiterou que não fará entendimentos com o Chega, sem excluir este partido do diálogo com todas as forças políticas para executar o seu programa.

A IL, com oito lugares, o BE, com cinco, e o PAN, com um, mantiveram o número de deputados. O Livre passou de um para quatro eleitos enquanto a CDU perdeu dois lugares e ficou com quatro deputados.

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, assumiu a derrota e afirmou que agora é tempo de o PS “liderar a oposição”.

A taxa de abstenção situou-se nos 33,77%, a mais baixa desde 1999, quando ficou nos 38,91%.

Estão ainda por apurar os quatro deputados pela emigração, o que só acontece no dia 20 de março. Só depois dessa data, e de ouvir os partidos com representação parlamentar, o Presidente da República indigitará o novo primeiro-ministro.

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