O cancro do rim é um tumor cada vez mais frequente no mundo ocidental e que tem sofrido uma mudança significativa no paradigma de diagnóstico e tratamento. A disseminação e acesso a exames de imagem – como a ecografia e TAC -, frequentemente por outras queixas não relacionadas com o tumor renal, tem possibilitado o diagnóstico deste tumor em fases cada vez mais precoces, possibilitando uma melhoria dos indicadores de tratamento, bem como a opção por estratégias de abordagem minimamente invasiva com possibilidade de preservação renal e, simultaneamente, excelentes resultados funcionais e oncológicos.

Segundo os mais recentes dados do Globocan (o observatório global oncológico da Organização Mundial de Saúde), Portugal registou 1049 casos de cancro do rim em 2022, o que representa uma escalada do 14.º para o 10.º lugar entre todos os tipos de cancro diagnosticados em Portugal nos últimos cinco anos.

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Este tumor é frequentemente silencioso, com poucos sintomas associados, e para o qual não existe ainda um plano de rastreio definido. Apesar da sua frequência crescente, continua a ser um tumor algo desconhecido da população, nomeadamente em relação aos principais fatores de risco associados a esta patologia – o tabagismo (principal fator de risco), a obesidade, hipertensão arterial e história familiar.

Diogo Gil Sousa, urologista no Instituto CUF Porto e na Clínica CUF S. João da Madeira© CUF

O tratamento do cancro do rim depende primariamente do estadio da doença, bem como das condições clínicas do doente. A cirurgia é o tratamento de eleição quando a doença está localizada no rim e em algumas situações de doença localmente avançada, sendo a opção de tratamento que reúne maior evidência no sentido curativo. Em doentes selecionados (conforme o estadio, subtipo tumoral e comorbilidades do doente), poderá ainda ser discutida a opção por terapêuticas ablativas utilizando diferentes fontes de energia, como o frio, a crioterapia ou a radiofrequência.

Numa era de utilização crescente da inteligência artificial e o desenvolvimento do paradigma da cirurgia digital, permitindo colocar ao serviço dos doentes e dos clínicos os mais avançados meios de diagnóstico e tratamento, o disseminar da cirurgia robótica bem como a utilização de modelos de reconstrução imagiológica 3D têm permitido um tratamento cada vez mais personalizado e com capacidade de preservação da função renal sem comprometer o fundamental resultado oncológico. Este desenvolvimento de novas tecnologias e técnicas cirúrgicas tem efetivamente permitido preservar a função renal e a sobrevida dos doentes com tumor do rim, mantendo elevadas taxas de cura. 

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Refletindo sobre este tema, recordo o caso de uma doente operada recentemente que apresentava um importante volume de cálculos renais num dos rins e um cancro no rim contralateral. Optamos por tratar o rim com cálculos por via percutânea – um tratamento minimamente invasivo – com sucesso na sua ‘limpeza’ e preservando a função residual que ainda apresentava; numa segunda fase foi submetida a cirurgia robótica para remoção parcial do outro rim, com reconstrução tridimensional do tumor para ótima localização do mesmo e sua remoção seletiva. Estes procedimentos minimamente invasivos e diferenciados permitiram à doente estar atualmente curada do tumor do rim, sem cálculos renais e com rápida e completa recuperação funcional com excelente qualidade de vida. Este seria um caso que à luz das técnicas e opções mais antigas poderia ter originado insuficiência renal e necessidade de hemodiálise.

No que diz respeito ao tratamento desta doença quando diagnosticada em fases mais avançadas, nomeadamente doença metastizada, o cancro do rim apresenta classicamente um padrão de elevada resistência à quimioterapia. No entanto, a terapêutica sistémica no tratamento deste tumor em estadios mais avançados tem sofrido um incrível desenvolvimento na última década, com um número exponencial de novos tratamento de Imunoterapia e terapia-alvo, que se têm revelado promissores no atraso da progressão da doença e na melhoria da qualidade de vida destes doentes.

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