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Investigadores e cientistas veem nos feijões, nas ervilhas ou no grão-de-bico parte da solução para garantir produção suficiente de proteína para a população mundial.
Ricas em proteína, com reduzido impacto ambiental e essenciais para a vida humana, assim são as leguminosas. Apesar de ocuparem pouco espaço na despensa de um português típico, que consome cerca de quatro quilos destes alimentos por ano, ingredientes como o feijão, a ervilha ou o grão-de-bico são apontados como parte da solução para alimentar a população mundial. “Uma das tendências da alimentação é a troca da vaca pelo feijão”, afirmou Marta Vasconcelos durante a conferência “A alimentação no futuro: evolução ou revolução?”, organizada pelo Grupo Jerónimo Martins esta quarta-feira, em Lisboa.
A investigadora da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade do Porto defende mesmo que “estes feijões mágicos precisam, cada vez mais, de entrar na ribalta” e nas escolhas alimentares dos cidadãos. E há muitas razões para que assim seja. Desde logo pela redução da pegada ambiental das refeições à base de proteína animal, cujo consumo em Portugal e na Europa é considerado elevado, mas também pela sua importância nutricional. “Devíamos consumir cerca de 80 gramas de leguminosas por dia. Se conseguíssemos fazer isto todos os dias seria altamente benéfico para a nossa dieta”, garante.
O especialista Pedro Graça confirma. “Se não consumirmos proteína em quantidade adequada, o nosso corpo falha”, explica o diretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. Este elemento essencial é particularmente importante para o desenvolvimento muscular e para o sistema nervoso central. Mas Pedro Graça diz ainda que, ao contrário do que se possa pensar, o equilíbrio na escolha saudável dos alimentos não é, necessariamente, um exercício complexo. “A nossa gastronomia tem um conjunto de pratos com proteínas equilibradas”, sublinha, dando como exemplo as ervilhas com enchidos e ovos escalfados. Cada um dos elementos – ervilhas, arroz e a carne – oferece o seu contributo que, em conjunto, suprime os desejos do sistema imunitário.
Embora reconheça que não existe “uma resposta única” ao desafio de alimentar milhares de milhões de pessoas em todo o Mundo de forma sustentável, António Serrano acredita ser preciso investir em várias frentes. Sistemas de produção que protejam os ecossistemas, combate ao desperdício alimentar, promoção de dietas saudáveis e utilização da inovação e da tecnologia na indústria agroalimentar devem ser prioridades. “O nosso desafio é produzir mais e melhor com menos recursos”, reforça o CEO da Jerónimo Martins Agro-Alimentar.
A tecnologia e a ciência têm sido os principais aliados de João Coimbra, líder da Quinta da Cholda, na produção de milhos e cereais de sequeiro. “Com a agricultura de precisão conseguimos detetar as áreas que mais produzem e é aí que investimos”, exemplifica. A enxada deu lugar a drones, tratores autónomos e sistemas de inteligência artificial que ajudam a produzir mais, melhor e com respeito pela biodiversidade. “Temos zonas [da exploração] só para a conservação dos ecossistemas”, diz, defendendo que seja cada vez mais este o futuro da agricultura.
O ovo vegetal que quer criar galinhas felizes
Daniel Abegão desistiu da carreira como investigador quando percebeu que “era muito difícil levar soluções [inovadoras] ao consumidor”. Do laboratório para a atividade empresarial levou o “ovo sem galinha”, uma alternativa vegetal ao alimento que cumpre dois objetivos centrais: preservar o bem-estar animal e contribuir para a inovação do setor. “É uma alternativa ao ovo de galinha que, em breve, vai estar disponível em pó para consumo industrial”, apontou o responsável da Plantalicious. Ao consumidor chegará, em 2023, uma linha que incluirá, além do ovo, uma “omelete pronta a consumir”. “A nossa proposta são galinhas felizes”, aponta.
“Temos uma área muito produtiva e depois esperamos que o Estado ponha um parque natural ao serviço do país. Aquilo em que acreditamos é que o parque natural do futuro vai ser dentro da nossa exploração”