No debate sobre transporte ferroviário, a IL defendeu privatização ou subconcessão da CP, mas outros partidos recusam a ideia. Críticas à falta de investimento e constrangimentos nas linhas perpassaram bancadas.
O prazo para a alta velocidade nas ligações Porto-Lisboa e Braga-Valença “continua a ser 2030”, garantiu na manhã desta sexta-feira o secretário de Estado das Infraestruturas, Frederico Reis Francisco, durante o debate de urgência sobre “O Estado do Transporte Ferroviário em Portugal”, requerido pela IL. “Continuamos convencidos que conseguimos tê-las prontas em 2030”, apesar dos atrasos do plano ferroviário.
O responsável assegurou, ainda, que o Governo lançou “os projetos mais importantes atempadamente e as coisas estão a prosseguir dentro do calendário para que a maior parte das obras esteja pronta em 2028”, citando como exemplos as ligações Contumil-Ermesinde e Alverca-Azambuja.
“Há problemas”, reconheceu o secretário de Estado das Infraestruturas: “Temos obras que atrasaram, temos falta de pontualidade provocada em boa parte por termos parte da rede em obra, temos linhas onde o serviço é fraco, temos comboios antigos e desconfortáveis para passageiros e trabalhadores”. Mas também há trabalho feito, garantiu, adiantando que atualmente há “mais de 400 quilómetros de linhas por todo o país em obras de modernização” e foram adquiridos 22 comboios, estando a decorrer concursos para comprar mais 117.
Antes, Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, lembrou os constrangimentos causados aos passageiros devido à greve da CP. “Nos primeiros dois meses do ano, entre greves na CP e greves na Infraestruturas de Portugal, tivemos 24 dias de greve e a instabilidade não tem fim”, disse. “Não está em causa o respeito pelo legítimo direito à greve, está em causa a gestão da CP, incapaz de garantir a paz social na empresa e isto tem consequências de norte a sul”, continuou, acusando o Estado de ser um “péssimo patrão”. Para a IL, “a única solução para o serviço ferroviário é a concorrência e a concessão, a privatização ou a subconcessão da CP”.
A ideia foi recusada pelos outros partidos, que, no entanto, não pouparam críticas à falta de investimento na ferrovia.
Caso de Sintra é “intolerável”
António Prôa, do PSD, lembrou o “grave incidente” ocorrido há dias na linha de Sintra, quando alguém acionou o travão de emergência e vários passageiros saíram para a linha, um episódio “intolerável” que é exemplo da “degradação” do transporte ferroviário em Portugal. “São centenas de milhares de pessoas que viajam diariamente como sardinhas em lata, com comboios atrasados e outros suprimidos”, descreveu.
Mais tarde, a propósito da situação em Sintra, José Carlos Barbosa, do PS, garantiu que “não esteve” em causa a “segurança dos passageiros”.
Rui Tavares, do Livre, apontou o “atraso de décadas na ferrovia”. E Mariana Mortágua, do BE, sublinhou que “Portugal destruiu ferrovia em vez de a construir” e “tem capitais de distrito que não têm acesso ferroviário”.
Bruno Dias, do PCP, também lamentou “o abandono” a que tem sido votada a ferrovia e exigiu que se passe “das palavras aos atos” em termos de investimento, para que haja “consequência na vida das pessoas e nas condições de trabalho e salários” dos funcionários.
Inês Sousa Real, do PAN, lembrou no debate o papel da ferrovia para o combate às “alterações climáticas”.
André Ventura, do Chega, também não poupou nas críticas e indicou notícias de 1999 (Governo PS), que apontavam uma “ligação Lisboa-Porto em 1.15 horas”. Mas estamos em 2023 e “nem ver a alta velocidade”. O líder do Chega insistiu nas “compensações” a quem não conseguiu usar a ferrovia devido à greve.
O secretário de Estado não respondeu, mas, no encerramento, Bernardo Blanco, da IL, referiu que a “indemnização por atraso já é possível”. “Não acontece é aquilo que propomos, que seja muito mais automático e informático, como está já a entrar em vigor em Paris”.