O líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, considerou, esta segunda-feira, que as previsões da Comissão Europeia são “o espelho de um país bem governado, no caminho certo”, elogiando a precaução do executivo em vários contextos de crise. A Oposição, por seu lado, criticou a “dessintonia entre o Governo e os portugueses” e pediu menos impostos e mais redistribuição da riqueza.
Esta posição foi manifestada pelo líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, na Assembleia da República depois de a Comissão Europeia ter revisto em alta a projeção de crescimento da economia portuguesa para este ano, para 2,4%, a terceira maior taxa da zona euro, revelando-se mais otimista do que o Governo. Bruxelas prevê também que o défice português diminua para 0,1% este ano, o menor da zona euro.
Considerando que as previsões económicas de Bruxelas são “boas notícias”, Eurico Brilhante Dias destacou que “Portugal está no ‘top’ três do crescimento económico depois de em 2022 ter sido um dos países com um crescimento económico mais robusto”. “O Governo a governar bem: mais uma vez, com o doutor António Costa, com o PS, perante as maiores dificuldades que temos tido com a pandemia, mas agora com a guerra e com o combate à inflação, os portugueses têm, lado a lado, quem protege os seus rendimentos, quem governa defendendo o país”, sustentou.
O socialista criticou ainda a oposição, dizendo que “falhou todas as previsões”. “E não é por acaso que o doutor Luís Montenegro, tão célere a responder e a comentar eventos da vida política portuguesa, até hoje, não comentou uma única vez os resultados da economia portuguesa no primeiro trimestre deste ano e até agora, a esta hora, ainda não comentou as previsões da Comissão Europeia, porque elas são o espelho de um país bem governado, no caminho certo”, concluiu.
PSD lembra que “as pessoas não comem estatística”
O deputado do PSD Duarte Pacheco defendeu, que existe “cada vez mais” uma “dessintonia entre o Governo e os portugueses”, argumentando que “as pessoas não comem estatística” e uma coisa são números e “outra é o dia-a-dia”.
“Nós somos portugueses e, portanto, aquilo que seja apresentado por qualquer instituição como positivo para Portugal, ficamos satisfeitos, naturalmente. Outra coisa é ficarmos embriagados, isso não ficamos. Porquê? Porque as pessoas não vivem de estatísticas e há cada vez mais uma grande diferença entre o país que os portugueses sentem e o país das estatísticas”, sustentou.
Duarte Pacheco salientou que “o país que as pessoas sentem” atravessa dificuldades na saúde, educação, justiça ou no setor da agricultura. “As pessoas não comem estatística, as pessoas não se tratam com estatística, as pessoas não aprendem com estatística, as polícias utilizam carros e não estatísticas para se movimentar e os carros estão parados por falta de reparação. Estamos cada vez mais com dois países diferentes: o da estatística e o da realidade”, disse.
Para os sociais-democratas, “há uma dessintonia entre o Governo e os portugueses” porque “as pessoas percebem que uma coisa são as estatísticas – e se elas são positivas, melhor – e outra coisa é o seu dia-a-dia que está cada vez pior”.
O deputado ressalvou que “é melhor ter contas equilibradas do que não as ter” e “é melhor crescer do que estar com uma economia estagnada”, mas insistiu na ideia de “dessintonia” e respondeu ao primeiro-ministro, António Costa, que afirmou hoje que as previsões económicas da Comissão Europeia são uma boa notícia para Portugal, mas advertiu que é preciso “continuar a pedalar” para a economia portuguesa manter a sua trajetória. “O primeiro-ministro está a pedalar mas não é numa bicicleta de estrada, está a pedalar naquelas bicicletas do ginásio, em que pedala, pedala, pedala, mas não sai do mesmo sítio. Até pode estar a gastar muitas energias, até pode ficar mais elegante, só que não é isso que é relevante para os portugueses. O que é relevante é que os problemas do dia-a-dia fossem resolvidos”, insistiu.
Chega e IL pedem menos impostos
O Chega e a Iniciativa Liberal defenderam a diminuição da carga fiscal e o PCP pediu uma maior redistribuição da riqueza, afirmando que “a vida das pessoas é que conta”, em reação às previsões de Bruxelas. “Dizer que vamos crescer 2,4% num contexto em que temos dezenas de milhares de milhões de euros de fundos europeus e uma inflação histórica, sem dizer quanto é que os portugueses e as famílias vão ter a mais, quanto é que os pensionistas vão ter a mais e quanto é que vai reduzir a carga fiscal soa a muito poucochinho por parte do Ministro das Finanças”, disse o líder do Chega, André Ventura, em declarações na sede do partido, em Lisboa.
Ventura afirmou que o Governo “em nada beneficiou ou contribuiu” para aquelas que considera serem as causas do crescimento económico, como o turismo ou o consumo interno, sublinhando que o país “não está a exportar mais tecnologia, não está a exportar mais matérias-primas, não está a exportar mais ‘know-how’, não está a exportar mais têxtil, não está a inovar”. “O crescimento de 2,4% anunciado para a economia portuguesa é um crescimento anémico. E é anémico quando temos em conta que estão dezenas de milhares de milhões de euros disponíveis de fundos comunitários para fazer a economia portuguesa crescer. Portugal devia estar a crescer muito mais com os fundos que tem do PRR neste momento à sua disposição”, considerou.
O deputado do Chega defendeu que “todos os fatores de crescimento económico não são fatores de crescimento estrutural” e que reconheceria “se o Governo estivesse a fazer um bom trabalho nesta matéria”.
Em declarações aos jornalistas no parlamento, o deputado da Iniciativa Liberal João Cotrim Figueiredo defendeu, também, que esta é uma oportunidade para “produzir uma redução fiscal generalizada para estimular” a economia em vez de fazer aquilo que considera ser uma “forma assistencialista” de distribuir o excesso de receitas.
Cotrim Figueiredo afirmou que “o que União Europeia veio dizer é que o Governo vai ser o grande beneficiário da inflação, porque vai cobrar muito mais impostos do que tinha orçamentado” e acusou o Governo de “pouco ou nada” ter feito para valorizar o turismo. “E tem que ser dito que em relação a esse setor [o turismo], o Governo tem feito pouco ou nada. E o que tem feito é no sentido de desvalorizar e atacar o setor turístico, nomeadamente, com aquilo que tenta fazer ao alojamento local no pacote Mais Habitação”, afirmou.
O deputado da IL disse também que todos os países elegíveis para o Fundo de Coesão da UE “vão crescer mais” em 2024 do que Portugal e que “isso deve ser citado ao mesmo tempo que citamos as boas notícias relativamente a 2023”. “É caso para dizer que uma andorinha também não faz o boletim da primavera e, portanto, há no meio destas boas notícias que saudamos, há estas sombras, e estas nuvens que nos dão a entender que o futuro não tão risonho como pode parecer”, concluiu.
PCP quer riqueza mais bem distribuída
Bruno Dias, deputado do PCP, alertou para a necessidade de distribuir a riqueza gerada no país, salientando que “os trabalhadores que estão a criar riqueza estão a empobrecer a trabalhar” e pediu mais investimento nos serviços públicos. “Quando nós falamos de resultados e estatísticas positivas para Portugal no contexto europeu, etc, tudo muito certo. Falta o investimento público, falta o investimento nos serviços públicos e falta a distribuição dessa riqueza. E isso significa salários e pensões e prestações sociais”, defendeu.
O comunista lembrou a polémica frase do presidente dos sociais-democratas, Luís Montenegro, em 2014, quando era líder parlamentar do PSD – partido que governava o país em coligação com o CDS-PP nos tempos do memorando da troika – que numa entrevista afirmou que “a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor”. “Pelos vistos é o mote outra vez em 2023. (…) A vida das pessoas é que conta. Nós precisamos que os portugueses, todos aqueles que vivem cá, tenham uma vida melhor. Há condições para isso. Vamos então para as opções políticas que criam condições para isso”, insistiu.