“Nós ficamos ali a `modjar´ (procurar) clientes. A pessoa pode passar sem a intenção de fazer unhas, mas nós a conquistamos”, explica à Lusa o jovem de 26 anos, à porta do jardim, com os olhos atentos, entretanto, a quem passa.

 

Como a maior parte do grupo, que ‘invade’ a entrada de um dos mais frequentados jardins do centro de Maputo às primeiras horas do dia, Dioclério vem do interior da província de Gaza e, passado quase 10 anos, lembra como foi chegar à capital para tentar “ganhar a vida” no meio das mais de um milhão de pessoas, a maior parte das quais direta ou indiretamente dependentes da dinâmica de uma economia informal.

O desafio de uma vida longe da quietude típica de Chibuto, município da província de Gaza que o viu nascer, exigiu ao jovem astúcia e foi neste exercício que surgiu a ideia do negócio das unhas, hoje o seu único ganha-pão.

“Sustentamos a nossa família e dá para fazermos as nossas coisas”, afirma o jovem, com orgulho, pouco antes de convencer a primeira cliente do dia: Nélia Alberto, uma comerciante informal que trabalha nos arredores do jardim.

“Hoje eu quero muitas cores”, avisa a cliente com sorriso leve, enquanto Dioclério procura um banco vazio para os dois no meio de outras mulheres que estão a ser atendidas.

O “banhado de cores” que Nélia exige vai custar entre cinco meticais (0,07 cêntimos de euro) e 400 meticais (cinco euros).

“Não é a primeira vez que cá venho, ele é quem trata das minhas unhas. Ele sabe atender e acarinhar os clientes. É barato e, se falas bem com ele, pode até baixar preços”, explica à Lusa Nélia Alberto, enquanto Dioclério Agostinho “trabalha” cuidadosamente as suas unhas.

É uma opção acessível, comparada com os, pelo menos, mil meticais (14 euros) que a comerciante informal pagaria num dos tantos salões convencionais de Maputo.

“É um tratamento de primeira. Eles não deixam de tratar-nos como clientes”, refere Ana Comé, uma outra cliente no banco ao lado que, a caminho de casa depois da escola, foi convencida por um dos jovens a dar um “banho de cores às unhas”.

A convite de Dioclério Agostinho, Eduardo Artur Mondlane, 26 anos, também saiu de Chibuto à procura de uma vida melhor em Maputo. Hoje, três anos depois, também pinta unhas no centro da capital para poder comer.

“O meu amigo foi quem me chamou. Eu já não tenho pai nem mãe e este meu amigo, para me ajudar, chamou-me para Maputo para fazermos o negócio das unhas”, diz à Lusa Eduardo Artur Mondlane.

Em Maputo, Dioclério e Eduardo partilham uma casa arrendada na periferia e, embora quase sempre no limiar da pobreza, este negócio é melhor que “roubar aos outros”, num contexto em que os índices de desemprego continuam altos entre a juventude urbana moçambicana, mesmo na capital.

Os dados do último censo populacional (2017) divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas indicam que, no universo de 32 milhões de moçambicanos, cerca de 9,4 milhões são jovens, um terço dos quais sem emprego, escolaridade ou formação profissional.

“Já vi que este negócio é bom porque pelo menos não estou a roubar nada de ninguém (…) A minha ambição é abrir a minha própria empresa”, diz Eduardo Artur Mondlane.

Enquanto os sonhos sobreviverem, nas agitadas manhãs do centro de Maputo, Dioclério e Eduardo vão continuar a “namorar as mulheres” na luta pelo pão de cada dia, num negócio informal, que é das principais alternativas para os milhares de jovens do interior de Moçambique que tentam “ganhar a vida” na capital.

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