O presidente do F. C. Porto recordou, esta terça-feira, a ida de Fernando Santos para o comando técnico da equipa azul e branca.
“Risco há sempre, em tudo o que fazemos na vida. Costumo dizer que o perigo é a minha profissão, um presidente não pode estar a pensar se há risco ou não, tem de ir a direito, em frente com a sua convicção. Na altura, eu contava que António Oliveira continuasse, mas teve de interromper a carreira devido a problemas familiares. Fui apanhado desprevenido… Tinha uma série de treinadores em vista, mas era admirador do Engenheiro Fernando Santos. Com equipas sem grandes valores, ele conseguia resultados, como aconteceu no Estoril e no Estrela da Amadora. Apreciava, acima de tudo, a forma como as equipas dele jogavam e a maneira de estar no futebol. Achava que era uma pessoa diferente. Telefonei-lhe e até foi muito engraçado”, começou por dizer Pinto da Costa em entrevista ao Porto Canal, recordando o convite ao ex-selecionador Nacional.
“Não estou a convidá-lo para o F. C. Porto, Engenheiro, mas, vou precisar de mudar de treinador”. E ele disse logo: ‘Mas eu não vou tirar lugar a ninguém’. Só aí mostrou logo a maneira de ser. ‘Não vai tirar o lugar a ninguém, porque o António Oliveira terá de sair. Não tem nada a ver com o F. C. Porto e o futebol’, respondi. E prossegui: ‘Não estou a convidá-lo, estou a dizer-lhe que quando acabar a Taça de Portugal, você é um dos treinadores que penso poder contactar nesse dia para conversar. Fique à vontade para, se lhe aparecer algo bom, não estar comprometido comigo. Se não aparecer, pode ser que no final da Taça lhe telefone. Ligação ao Benfica? Se forem bons ligados ao Porto, é o ideal. Mas se a pessoa for, como eu sabia que era, séria, dedicada ao que faz e que iria dar tudo pelo F. C. Porto… É igual. Vínhamos com o rádio ligado e um tal Valdemar Duarte anuncia assim: ‘O benfiquista Fernando Santos é o novo treinador do F. C. Porto’. E ele ficou incomodado. Mas qual era o problema? Ser do Benfica não é nenhum crime. É mau gosto, mas não é crime. Não tem problema nenhum, daqui a 15 dias já está a viver isto. Hoje, não tenho dúvidas, ele ainda sente o F. C. Porto”, acrescentou.
Pinto da Costa aponta sintonia com Sérgio Conceição nos “objetivos e inimigos”
Dos vários treinadores que contratou no seu trajeto no clube, Pinto da Costa não esconde um particular carinho pelo primeiro que assegurou, José Maria Pedroto, e pelo mais recente, Sérgio Conceição, reafirmando, na segunda parte de uma entrevista ao Porto Canal, as “parecenças” entre os dois. “Conheci o Sérgio quando ele, com 16 anos, veio para o F. C. Porto. Não o vejo como um jogador ou treinador, mas quase como um familiar”, desabafou o dirigente. “Estamos identificados nos mesmos objetivos, dificuldades e inimigos, num princípio de que é até morrer”, acrescentou.
O líder portista lembrou, nesta entrevista, que desde os tempos em que Sérgio Conceição treinava a Olhanense que seguia com atenção o seu percurso como técnico e que, quando Lopetegui saiu do comando do F. C. Porto, tentou logo contratá-lo. “Na altura, ainda ele estava em Guimarães, senti que nem todos na SAD acreditavam nele. E para não criar guerras com o Vitória, fomos buscar o José Peseiro, mas nunca deixou de ser uma prioridade para mim”, partilhou.
Mais tarde, e já quando o treinador tinha sido contratado pelos franceses do Nantes, Pinto da Costa aproveitou uma vinda de Conceição a Portugal para chamá-lo ao seu escritório no Porto, e finalmente, alinhavar a contração. “Ele percebeu a confiança que teria da minha parte. Logo aí entusiasmou-se e disse que ia ser treinador do F. C. Porto. Depois, foi um filme desvincular-se do Nantes, mas correu tudo bem”, lembrou.
O histórico dirigente falou de Conceição nesta segunda parte da entrevista ao Porto Canal, onde abordou os treinadores que contratou desde Fernando Santos, falando do ex-selecionador nacional com “enorme estima e amizade”.
“Admirava do seu trabalho, pois em equipas sem grandes valores conseguia bons resultados. Apreciava a sua maneira de estar no futebol”, contou Pinto da Costa, lembrando que o Fernando Santos recusou um convite certo do Vitória de Guimarães para estar disponível para a possibilidade de treinar o F. C. Porto, onde acabou por vencer o inédito pentacampeonato.
Mourinho e Villas-Boas desviados de Lisboa
O líder portista recuperou, ainda, o processo de contratação de José Mourinho, no final da época de 2001/02, depois da saída prematura de Otávio Machado. “Teoricamente era um risco, mas tinha a certeza de que não ia ser. Quando ele foi adjunto do Bobby Robson percebi a importância que teve naqueles sucessos, com o seu atrevimento e ambição. Aconselhei-o a ficar mais algum tempo em Barcelona como adjunto do Van Gaal, para ter ainda mais conhecimentos”, partilhou Pinto da Costa.
Quando Mourinho decide regressar a Portugal para uma carreira como treinador principal, Pinto da Costa disse que o recomendou ao presidente da União de Leiria, onde acabou por fazer um bom trabalho e voltou despertar o interesse do Benfica, já depois de uma prévia, mas curta passagem. “Ele ia assinar com eles a 29 de dezembro [de 2001], mas consegui que viesse ao Porto falar comigo, um dia antes, no meu aniversário. Acordamos que ficaria na União de Leiria e que viria para o F. C. Porto no início da época seguinte. Mas acabou até por vir mais cedo e foi preponderante, pois conseguiu o apuramento para a Taça UEFA, que viria depois a ganhar”, recordou.
Também André Villas-Boas, outros dos técnicos com êxito no F. C. Porto, foi desviado de Lisboa para a cidade Invicta. “Disse-nos que estava comprometido com Sporting, pois tinha falado com Costinha que era o diretor desportivo”, contou Pinto da Costa, que conseguiu convencer o então jovem treinador “inteligente e ambicioso” a desfazer esse vínculo e rumar ao Dragão. “Na altura estava o Carlos Carvalhal no Sporting, que tinha ganho um jogo por 4-0 e recebeu uma grande ovação dos adeptos. Disse ao Villas-Boas que se ele fosse para lá [Alvalade] ia ser considerado um intruso do Porto, e se não ganhasse só ficava três meses”. Segundo Pinto da Costa, Villas-Boas concordou “e telefonou ao Costinha a dizer que não se sentia à vontade e com confiança para assumir o compromisso”. ficando livre para assumir o F. C. Porto.
Nestas recordações sobre os treinadores que escolheu, Pinto da Costa falou, ainda, na aposta em Co Adriaanse, um técnico “extravagante no bom sentido”, e lembrou Jesualdo Ferreira, que conseguiu resgatá-lo ao Boavista, no início de uma época, apontando-o como “um professor do futebol”. “Foi o treinador que mais fez evoluir os jogadores. Dou o exemplo do Hulk, que melhorou imenso com o trabalho Jesualdo. Passava horas com eles no campo a trabalhar com eles”, partilhou.
O dirigente lembrou ainda a aposta em Vítor Pereira, dizendo que o atual treinador do Flamengo ” teve uma influência enorme nos êxitos de André Villas-Boas”, de quem foi adjunto no F. C. Porto, enaltecendo a forma como “preparava e dava os treinos”.
Antes da era de Sérgio Conceição, Pinto da Costa também não esqueceu três treinadores que não tiveram o sucesso desejado no clube, mas a quem reconheceu “qualidades”. Sobre Paulo Fonseca apontou que “veio demasiado cedo para um clube grande”, mas que “já provou que é um grande treinador”.
Sobre Julen Lopetegui considerou que o espanhol “apanhou um tempo das arbitragens lastimáveis”, e sobre Nuno Espírito Santo notou que pelo seu feitio “introspetivo acabou por não criar empatia com os jogadores”.