A sucessão estava planeada. Apenas foi antecipada. Já depois do ‘adeus’ glorioso de Ruben Amorim, o Sporting deu início a um ‘novo’ capítulo em Alvalade, com a apresentação de João Pereira como novo treinador, ao ter sido promovido da equipa B à principal. Entre questões e dúvidas, na retina ficam, desde logo, as semelhanças entre o ex e o atual técnico, na perspetiva de que o dia 11 de novembro de 2024 seja, para os leões, um marco de “continuidade” e não de dissonância.
Com um percurso de treinador iniciado em 2021, João Pedro da Silva Esmail Pereira foi, antes disso, um jogador de referência no futebol nacional (e até europeu), cujo percurso começou por ser altamente vistoso na formação do Benfica. Quanto a isso, qualquer semelhança com Ruben Amorim é pura coincidência. Ou talvez não.
Contrariamente ao novo treinador do Manchester United, que apenas passou pelo Sporting na condição de treinador, o antigo defesa ainda chegou a vestir a camisola do Sporting, com três passagens distintas – a primeira entre 2010 e 2012, a segunda entre 2015 e 2016 e, por fim, o término da carreira em 2020/21. Esse fim não chegou a sê-lo, uma vez que, nos últimos três anos, passou a exercer funções de técnico nos sub-23 e nos ‘bês’. Mas vamos por partes.
Do jogador “ranhoso” ao treinador “mais calmo”
João Pereira arrancou a sua formação no Domingos Sávio e motivou rapidamente a atenção do Benfica, clube ao qual se juntou em 1994, durante uma dúzia de anos, saindo apenas em 2006. Passo a passo nas camadas jovens, o lateral-direito chegou à equipa principal em 2003/04, numa aposta fixa de José Antonio Camacho e que teve seguimento sob o comando de Giovanni Trapattoni, com a conquista de campeonato e outras Taças.
Afinal, quem não se lembra daquele momento em que João Pereira ‘sacou’ um cartão vermelho no dérbi frente ao Sporting (3-3, 7-6 após grandes penalidades), na Taça de Portugal, a Hugo Viana (atual diretor desportivo dos leões, a caminho do Manchester City)? Talvez aí a alcunha de “ranhoso”, utilizada por Ruben Amorim em 2021, já assentasse no defesa – não no sentido literal do termo, claro.
João Pereira iniciou o seu percurso nas provas europeias ao serviço… do Benfica.© Getty Images
Com Ronald Koeman, João Pereira não teve tanta sorte e acabou por ser emprestado ao Gil Vicente, a meio da época 2005/06, onde ficaria em definitivo na época seguinte. Seguiu-se uma aventura de dois anos e meio no Sporting de Braga e só depois o primeiro de três capítulos em Alvalade, entre 2010 e 2012, num período algo turbulento para os verde e brancos. O estrangeiro veio a seguir, com passagens por Valencia e Hannover 96, até ao regresso ao Sporting, em 2015/16… e logo com direito à conquista da Supertaça.
O experiente defesa – já com 40 internacionalizações – rumou à Turquia, a meio da temporada 2016/17, para continuar a ‘perfumar’ os relvados no Trabzonspor. E assim foi durante sensivelmente quatro anos. Aliás, ainda andava o lateral-direito pelo futebol turco e já Frederico Varandas tinha considerado, em entrevista ao Canal 11, em maio de 2020, que João Pereira acabaria por dar em treinador. Dito e feito. Antes dessa transição, eis que se deu a terceira passagem pelo Sporting, em janeiro de 2021, ajudando ainda Ruben Amorim a ‘quebrar’ um jejum de 19 anos ao contribuir para a conquista do campeonato nacional.
Uma coisa é certa: o início deu-se de um lado da Segunda Circular e o tal ‘fim’ aconteceu do outro lado. Um ‘fim’ que se transformou em início, dado que foi precisamente no Sporting que o antigo internacional luso deu início ao seu percurso como treinador, considerando estar “mais calmo” agora do que quando era jogador, embora confesse detestar perder.
O sportinguismo vem de família
Se Ruben Amorim é assumidamente um adepto do Benfica, apesar do carinho muito especial que foi ganhando pelo Sporting, João Pereira não escondeu a emoção, esta segunda-feira, ao falar do sportinguismo do seu pai, pese embora tenha estado 12 anos de águia ao peito.
O técnico de 40 anos começou por ser adjunto nos sub-23, em 2021/22, seguindo-se duas temporadas como treinador principal da equipa do referido escalão, até que, esta temporada, já pelo Sporting B, levava um registo de quatro vitórias, quatro empates e três derrotas em 11 jogos na Liga 3. Era suposto João Pereira ocupar a vaga de Ruben Amorim apenas daqui a sete meses, mas quis o destino que fosse colocado à prova antes e já se prepara para ser ‘atirado aos leões’. Pela frente tem um plantel composto por alguns jogadores com quem até se chegou a cruzar na época 2020/21.
A ‘herança pesada’ é a de 16 triunfos do Sporting em 18 jogos na presente temporada, 11 dos quais em 11 jornadas no campeonato, para além de uma impressionante campanha na Liga dos Campeões. “E se corre bem?”, questionava Ruben Amorim, em jeito de brincadeira, quando viu a direção encabeçada por Frederico Varandas investir 10 milhões de euros pela sua contratação. É essa a pergunta que se estende a uma nova era em Alvalade. Como dizia o novo treinador do Manchester United, na festa do título no Marquês de Pombal (no passado mês de maio)… “Vamos ver”.
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