“É com essa verba que teremos de contar para levar por diante o nosso programa. Não deixaremos, no entanto, de procurar outro tipo de apoios”, disse à agência Lusa José António Bernardes, referindo-se a “instituições com vocação mecenática”.

 

Na Estrutura de Missão para as Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões, “quando tivermos de fazer escolhas – e vamos ter de as fazer – privilegiaremos iniciativas duráveis”, adiantou o comissário-geral.

“Podem não ter tanto impacto imediato, mas deixam semente de futuro”, declarou o professor catedrático e ex-diretor da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (UC).

Em setembro, José Augusto Bernardes sucedeu no cargo de comissário-geral a Rita Marnoto, também professora da UC, mantendo-se em funções os restantes membros da Estrutura de Missão.

“Procurou-se que a programação fosse criteriosa e exequível, mobilizasse várias entidades e contemplasse atividades de diferente natureza. Fico satisfeito por poder dizer que contamos com a participação de autarquias, universidades, fundações e outras instituições de índole cívica e cultural”, afirmou.

O comissário-geral ressalvou que “a programação é dinâmica, não se impõe de forma fechada e inamovível”, antes “pelo contrário”.

“Fico particularmente satisfeito por poder contar com a participação das escolas. O encontro dos portugueses com Camões acontece na escola. É no nono e no décimo ano [de escolaridade] que se decide o tipo de relação que os cidadãos e as cidadãs manterão com o poeta ao longo da vida. Nessa medida, será dado destaque a iniciativas que mobilizem docentes e públicos juvenis”, explicou.

José António Bernardes, que coordenou o Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos, de 2004 a 2005, recordou que as comemorações dos 500 anos do nascimento do autor de “Os Lusíadas” começaram antes de a Estrutura de Missão “ter podido iniciar a sua ação”.

“Isto só pode significar que os portugueses precisam ainda muito de celebrar Camões. Trata-se de uma necessidade coletiva e não de um simples dever ou de um mero ritual”, enfatizou.

Na sua opinião, a atualidade da obra de Luís de Camões “talvez esteja hoje na sua consciência de mundo”, que era “relativamente nova no tempo do poeta e ainda não se cumpriu totalmente nos nossos dias”.

“Acredito que a maior interpelação que Camões dirige ao nosso tempo seja mesmo essa. Até que ponto alcançámos já o sentimento de pertença universal que transparece no final de ‘Os Lusíadas’, quando Tétis [divindade da mitologia grega] mostra ao Gama o mundo então desconhecido?”, questionou.

Para o comissário-geral, “já não é apenas o descobridor do caminho marítimo para a Índia”, Vasco da Gama, a ser “contemplado com essa revelação”, mas sim “o ser humano em geral que, para além dos ‘olhos mortais’, descobre que o mundo é bem mais vasto do que julgava”.

“Será possível incorporar esta e outras ideias na maneira como se ensinam ‘Os Lusíadas’ na escola? Não tenho certezas. Sei que, pelo menos, podemos e devemos contribuir para que esse debate ocorra”, defendeu.

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