A Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso das gémeas tratadas em 2020 no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com o medicamento Zolgensma, prossegue os trabalhos e a última sexta-feira ficou marcada pela audição de Carla Silva, ex-secretária de António Lacerda Sales, mas também pela divulgação das respostas enviadas pelo ex-primeiro-ministro António Costa ao Parlamento. 

 

Na audição de Carla Silva o destaque foi para a garantia de que não fez nada que o antigo secretário de Estado da Saúde não soubesse, revelando que teve orientações para contactar Nuno Rebelo de Sousa e o hospital sobre as gémeas, mas também pelo facto de ter afirmado sentir-se “um bode expiatório”, acusando Lacerda Sales de “levantar suspeições” contra si.

“Eu não fiz nada que o secretário de Estado da Saúde não soubesse”, afirmou Carla Silva, após ser questionada pelo deputado do PS João Paulo Correia. 

De recordar que, de acordo com o relatório da Inspeção Geral de Atividades em Saúde (IGAS) sobre este caso, foi Carla Silva quem contactou o Hospital de Santa Maria para marcar a consulta das gémeas – uma informação já negada por Lacerda Sales.

No relatório, o IGAS explicou que Carla Silva remeteu informações como “a identidade das crianças, data de nascimento, diagnóstico e datas em que os pais poderiam estar presentes” para o Santa Maria sob orientação do ex-secretário de Estado.

A ex-secretária de António Lacerda Sales disse hoje que não fez nada que o antigo secretário de Estado da Saúde não soubesse, revelando que teve orientações para contactar Nuno Rebelo de Sousa e hospital sobre as gémeas luso-brasileiras.

Lusa | 16:19 – 20/09/2024

A ex-secretária de Lacerda Sales adiantou que entrou em contacto com o filho do Presidente da República, Nuno Rebelo de Sousa, a pedido do ex-governante do gabinete da então ministra da Saúde Marta Temido.

O secretário de Estado [da Saúde] pediu para contactar Nuno Rebelo de Sousa. Eu contactei Nuno Rebelo de Sousa, identifiquei-me e pedi os dados clínicos [das crianças], e depois encaminhei o email para Ana Isabel Lopes”, que era responsável pelo departamento de pediatria do Hospital de Santa Maria, disse aos deputados.

À deputada da Iniciativa Liberal (IL) Joana Cordeiro, a antiga secretária esclareceu que a conversa que teve com Nuno Rebelo de Sousa foi “muito básica” para lhe dizer que “tinha tido orientações para o contactar para pedir os dados clínicos e dar seguimento para o hospital”.

Carla Silva indicou que “estava a seguir um pedido do secretário de Estado” e nunca falou com os pais das crianças. A ex-secretária de Lacerda Sales recordou que na altura não sabia que as crianças iriam precisar de ser tratadas com Zolgensma e que não fazia marcação de consultas.

“Eu não marco consultas. O secretário de Estado fez um pedido para entrar em contacto com o hospital para fazer uma avaliação clínica. Não faço atos administrativos, não marco consultas”, salientou, lembrando que transmitiu a Lacerda Sales o email de agradecimento enviado por Nuno Rebelo de Sousa.

“Sim, possivelmente [sou] bode expiatório”

Além disso, a ex-secretária de António Lacerda Sales afirmou que se sente “um bode expiatório”.  “Temos um ex-secretário de Estado da Saúde a negar qualquer intervenção neste caso e a levantar suspeições em relação a mim, que era secretária do gabinete, supostamente de confiança. Sim, possivelmente [sou] bode expiatório”, criticou Carla Silva, em resposta à deputada do BE Joana Mortágua.

Ex-secretária de Lacerda Sales diz que se sente

A ex-secretária de António Lacerda Sales afirmou hoje que se sente “um bode expiatório” no caso das gémeas luso-brasileiras, acusando o antigo secretário de Estado da Saúde de “levantar suspeições” contra si.

Lusa | 18:38 – 20/09/2024

Na audição, que durou mais de duas horas e meia, a ex-secretária de Lacerda Sales escusou-se a responder se estava zangada com o ex-governante e esclareceu que o pedido à responsável pelo departamento de pediatria do Hospital de Santa Maria, Ana Isabel Lopes, “foi de marcação de consulta”.

“Independentemente de eu ter colocado no assunto do email pedido de avaliação clínica ou ter falado em sinalização, foi um pedido de marcação de consulta”, disse aos deputados.

Em resposta à deputada do Chega Cristina Rodrigues, Carla Silva indicou que hoje atuaria “de forma diferente” e que “não voltaria a fazer o mesmo”. Se fosse agora, disse, teria pedido a Lacerda Sales para enviar o email para o hospital, em nome próprio.

A secretária lembrou ainda que nunca mais voltou a “ter contacto com Nuno Rebelo de Sousa” e não sabia se Lacerda Sales conhecia o filho do Presidente da República.

“Eu não sei [o que está por trás deste processo]. Eu não sei. Eu estou a dizer a verdade. Eu tenho um secretário de Estado a levantar suspeitas em relação a mim e à minha verdade“, acrescentou.

Recorde-se que a antiga secretária de Lacerda Sales foi ouvida no Parlamento sem exibir a sua imagem. A audição foi transmitida, via televisão, pelo Canal Parlamento, que a determinado momento gravou, por breves segundos, a imagem de Carla Silva. No final, Rui Paulo Sousa pediu desculpa pelo sucedido. 

Carla Silva pediu para ser ouvida na Comissão Parlamentar de Inquérito no caso das gémeas, mas ainda solicitou que fosse uma audição à porta fechada. O pedido foi negado, mas garantida a “proteção da imagem”, dado que não era suposto as câmaras captarem a antiga governante – transmitindo apenas o som.

Notícias ao Minuto | 17:37 – 20/09/2024

Costa nega conhecimento prévio do caso. Chega quer voltar a ouvir Lacerda Sales

A Comissão Parlamentar de Inquérito também recebeu ontem as respostas do ex-primeiro-ministro António Costa. 

Nas respostas escritas em 14 páginas, às quais a Lusa teve acesso, António Costa diz que só soube do caso através da comunicação social e que “um secretário de Estado não tem competência para marcar consultas, que só podem obviamente ser marcadas por quem tem para tal competência em cada instituição do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”.

Em resposta ao PSD, sobre se os secretários de Estado deveriam assumir responsabilidades políticas quanto às ações das secretárias, o ex-primeiro-ministro disse que “os membros do Governo são politicamente responsáveis pelos seus atos e omissões e, consoante a situação concreta, por atos e omissões de quem está sob a sua direção ou tutela”.

O presidente do Chega, André Ventura, veio depois dizer que já está decidido pedir “mais esclarecimentos” ao ex-primeiro-ministro António Costa e que este vá “diretamente à comissão, fisicamente,” responder aos deputados, já depois de referir que as suas respostas “deixam no ar muitíssimas interrogações” e “são ineficazes e incompletas”.

Além disso, para o líder do Chega, a audição de Carla Silva revelou “a falsidade de testemunho” de Lacerda Sales em 17 de junho e anunciou que vai pedir uma nova audição ao ex-secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales, afirmando que “ficou claro que houve uma ordem” para que a consulta às gémeas luso-brasileiras fosse feita.

O presidente do Chega anunciou hoje que vai pedir uma nova audição ao ex-secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales, afirmando que “ficou claro que houve uma ordem” para que a consulta às gémeas luso-brasileiras fosse feita.

Lusa | 17:51 – 20/09/2024

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