“Hoje partiu um dos nossos” refere a nota da Viúva Lamego, empresa onde Cargaleiro, que hoje morreu aos 97 anos, colaborou mais de 70 anos.

“Fica a enorme saudade amaciada pela nossa memória coletiva do sorriso que a todos conquistava, a simpatia e amizade, sempre acompanhadas pelo cuidado, o rigor e a excelência”, lembra ainda o comunicado, indicando tratar-se de “um legado” de que muito se orgulha.

Manuel Cargaleiro, ou Mestre Cargaleiro como também é conhecido, dividiu-se durante anos entre Paris (França), para onde foi morar em 1958, e Sintra, onde dizia ser “o mais antigo operário” da Viúva Lamego, fábrica-ateliê que se dedica ao azulejo português.

“Querido mestre, em nome de todos os que colaboram na Viúva Lamego, deixamos-lhe o nosso Obrigado e até sempre! À Família, em particular à sua mulher Isabel, o nosso voto de pesar”, lê-se na nota.

O Mestre Cargaleiro, que se continuava a identificar como “o garoto simples que faz bonecos”, teve a sua arte fortemente inspirada no azulejo tradicional português. Em 1949, ingressou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e participou na Primeira Exposição Anual de Cerâmica, no Palácio Foz, em Lisboa, onde realizou a sua primeira exposição individual de cerâmica, no ano de 1952.

No início de carreira, ainda na década de 1950, recebeu o Prémio Nacional de Cerâmica Sebastião de Almeida, e o diploma de honra da Academia Internacional de Cerâmica, no Festival Internacional de Cerâmica de Cannes, em França, numa altura em que iniciara funções de professor de Cerâmica na Escola de Artes Decorativas António Arroio e apresentara as suas primeiras pinturas a óleo no Primeiro Salão de Arte Abstrata.

Nas décadas de 1960 e 1970, participou em exposições individuais e coletivas e durante este período afirmou-se não apenas como conceituado ceramista, mas também como desenhador e pintor. Nos anos 1980 começou a explorar a tapeçaria.

A partir da década de 90, predominariam na sua obra os padrões aglomerados e cromaticamente intensos onde continuaria a ser evocado o azulejo português.

Em Castelo Branco, viria a ser inaugurada a Fundação Manuel Cargaleiro, em 1990, depois expandida com o respetivo museu e mais tarde, no Seixal (Setúbal), a Oficina de Artes Manuel Cargaleiro.

O ceramista recebeu, em Paris, em 2019, a medalha de Mérito Cultural do Governo português e a Medalha Grand Vermeil, a mais alta condecoração da capital francesa, onde viveu grande parte da sua vida.

Na altura, foi também inaugurada a ampliação da estação de metro de Champs Elysées-Clémenceau, com novas obras de Manuel Cargaleiro, depois de originalmente concebida e totalmente decorada pelo artista português, em 1995, incluindo o painel em azulejo “Paris-Lisbonne”.

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