De “viver noutro mundo” a “culpado do declínio da Alemanha”, a oposição, com destaque para os conservadores da CDU e a extrema-direita AfD, não pouparam nas críticas ao ainda chanceler Olaf Scholz. Na primeira declaração depois da queda da ‘coligação semáforo’, o ainda líder do governo alemão, agora minoritário (SPD e Verdes), discursou durante meia hora no Bundestag no que viria a ser o arranque não oficial da campanha para as eleições de fevereiro.
“Embora o Partido Social Democrata [SPD] possa ter maiores hipóteses eleitorais com um candidato mais conservador, como Boris Pistorius [atual ministro da Defesa], é provável que a direção do SPD, orientada para a esquerda, prefira manter o modelo atual, em que o chanceler não tem poder sobre o partido e, ao mesmo tempo, precisa de encontrar o apoio da direção”, considerou o politólogo Thomas König, da Universidade de Manheim, em declarações à Lusa.
Scholz aproveitou o seu tempo perante os deputados, esta quarta-feira, para frisar que a sua decisão de demitir o ministro das Finanças, Christian Lindner (Partido Democrático Liberal), que conduziu à saída dos liberais da coligação, foi a “correta e inevitável”.
Uma decisão que o levaria a convocar uma moção de confiança que irá ser votada a 16 de dezembro, precipitando eleições antecipadas.
“Trata-se de um compromisso entre a coligação minoritária e a União democrata-cristã [CDU], da oposição. Curiosamente, este compromisso não foi negociado com o chanceler, mas sim com os líderes das fações do Bundestag”, apontou König.
Para o politólogo Uwe Jun, provocar a queda do governo para que as eleições antecipadas aconteçam a 23 de fevereiro foi, “dadas as circunstâncias”, uma “boa decisão”.
“Uma decisão com a qual quase todos os atores relevantes podem concordar, os partidos relevantes, o Presidente federal e as pessoas a quem foi confiada a organização das eleições”, sustentou, em declarações à Lusa.
O Welt escreve que “são todos contra um”.
O chanceler adverte para os tempos difíceis que se avizinham, enquanto o seu adversário, Friedrich Merz, da CDU, acusa-o de divisão.
“Olaf Scholz é atacado por todos os lados no Bundestag. Este dia é um prenúncio da campanha eleitoral”, escreve o jornal alemão.
Uwe Jun, da Universidade de Trier, acredita que “seria muito difícil” que o SPD se tornasse o partido mais forte nas eleições, como aconteceu em 2021.
“Neste momento parece ser muito improvável. A CDU/CSU começa a campanha como clara favorita. É interessante notar que toda a liderança do SPD apoia Scholz, apesar de algum descontentamento e queixas entre o partido parlamentar e o partido no terreno”, salientou.
Num artigo de opinião do Spiegel, lê-se que “Scholz é o candidato errado para chanceler”, defendendo que o seu partido, o SPD, “estaria melhor se começasse de novo” sem ele e com um “candidato diferente”. A publicação alemã diz mesmo que o “partido não tem mais nada a perder”.
A 100 dias das eleições antecipadas os politólogos ouvidos pela Lusa ainda têm poucas certezas. Clara parece estar a subida dos partidos de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), e extrema-esquerda, Aliança Sahra Wagenknecht Razão e Justiça (BSW).
Leia Também: Inflação na Alemanha acelera para 2% em outubro