A atriz Alina Vaz, que morreu hoje aos 88 anos, tinha “orgulho sem falsa modéstia” pela sua carreira, que ao longo de mais de 60 anos passou pelo teatro, arte que dizia amar, mas também pelo cinema, rádio e televisão.

 

Alina Vaz estreou-se, ainda aluna do Conservatório, na peça, “Rei Lear”, de Shakespeare, com encenação de Francisco Ribeiro, “Ribeirinho”, em 1955, no Teatro da Trindade, em Lisboa.

Como profissional estreou-se em 1959 no Teatro Nacional D. Maria II (TNDM), na peça “Os Comediantes”, de Peter Glenville.

Numa entrevista à agência Lusa, a atriz recordou a “firme disciplina imposta pelo Nacional, dentro e fora do teatro”, e recordou que “Amélia Rey-Colaço ensaiava as peças de luvas”.

Sobre a carreira, a atriz realçou à Lusa a relevância de estar “em atividade”, e como “todos os papéis são importantes”.

Recordou as peças em que participou e que “estiveram meses em cartaz”, nomeadamente “O Gato”, com Irene Izidro e Henrique Santana, “A Mala de Bernadette”, “A Flor do Cato”, encenadas por Santos Carvalho, “A Pobre Milionária”, com encenação de Armando Cortez, “A Gravata”, encenada por Mª. Helena Matos (1911-202).

Uma das principais peças que Alina Vaz protagonizou, e esteve mais de um ano em cena, foi “A Preguiça”, em que contracenou com Raul Solnado, referida como “o grande sucesso da temporada teatral” de 1969, segundo a obra “Os Anos de Salazar” (2006).

Segundo a imprensa da época, esta comédia “tornava-se dia-a-dia um sucesso popular” com lotações esgotadas.

Sobre a construção das suas personagens, a atriz afirmou à Lusa que as tornava suas quando tomava “o seu modo de andar, pois reflete a personalidade de cada um”.

A atriz afirmou que todas as personagens que encarnou, “de alguma forma”, a tinham moldado ao longo da vida.

Ao longo da carreira, contracenou com atores como António Silva, Laura Alves, por quem tinha uma grande admiração, Maria Albergaria, Nicolau Breyner, Alda Pinto, Manuela de Freitas, Manuela Maria, Zita Duarte, Guida Maria e Julie Sargeant, ou as brasileiras Eva Todor e Alma Flora.

Em 2016, quando foi homenageada pelo Teatro Experimental do Porto, onde trabalhou na década de 1960, sob a direção de António Pedro, afirmou que sentia “orgulho, sem falsa modéstia” por uma carreira construída “num enorme respeito pelo teatro”, que afirmou amar, “e em grande camaradagem com os colegas”.

Além fronteiras, participou no México, em 1989, no Festival Cervantino, onde ganhou o prémio de Melhor Interpretação Feminina.

Atuou também nos Estados Unidos, no Festival XIV Siglo de Oro, em El Paso, no Texas, nesse mesmo ano, onde também recebeu o Prémio de Melhor Atriz, e, em Espanha participou no Festival de Teatro Rainha Sofia, em Burgos.

No cinema, estreou-se em 1957 com “Pedido de Casamento”, de Artur Ramos, e participou em filmes como “A Costureirinha da Sé” (1958), de Manuel de Guimarães, ou “Sangue Toureiro” (1958), de Augusto Fraga, o primeiro filme nacional a cores, em que contracenou com Amália Rodrigues (1920-1999).

“A Maluquinha de Arroios” (1970), “Uma Vida Normal” (1993), e “A Noiva” (2000), de Luís Galvão Teles, com Catarina Furtado, Diogo Morgado, Nuno Lopes, entre outros, foram outros filmes em que participou.

Na televisão, além de locução, dobragens e apresentação de programas, fez parte dos elencos de dezenas de peças, séries e telenovelas, nomeadamente “Enquanto os Dias Passam” (1958), “Chuva na Areia” (1985), “Passerelle” (1989), “Milongo” (1994), série que recebeu uma Menção Honrosa na X Mostra Atlântica dos Açores, “Olhos de Água” (2001) e “Ajuste de Contas” (2001), entre outras.

Na rádio interpretou dezenas de peças e folhetins radiofónicos e fez a adaptação de romances para teatro radiofónico, nomeadamente “Uma Aventura Inquietante”, de José Rodrigues Miguéis, “Terra Fria”, de Ferreira de Castro, “Terras do Demo”, de Aquilino Ribeiro, “A Escola do Paraíso”, de Miguéis.

Dirigiu leituras de peças de autores portugueses na Biblioteca Camões, em Lisboa, com animação teatral e colóquio.

Com Alberto Villar (1933-2020), dirigiu e encenou o projeto “Viagens ao Interior do Teatro”, no Teatro Municipal Maria Matos, em Lisboa, que esteve em cena 25 anos, destinado aos alunos do ensino secundário, e que teve uma assistência estimada em mais de 100.000 alunos, segundo dados do teatro municipal, tendo prosseguido durante mais um ano no Centro Cultural Franciscano, também na capital.

Alina Vaz organizou as antologias “Os Melhores Contos de Mark Twain” e “Os Melhores Contos de Maximo Gorki”, colaborou com a Associação Portuguesa dos Amigos do Fado, no âmbito da qual apresentou, no Museu do Fado, uma investigação sobre o poeta António Vilar da Costa (1921-1988) e participou em iniciativas relativas aos 150 anos da morte da Severa.

Coordenou, no Museu de Arqueologia do Carmo, em Lisboa, uma leitura seguida de debate sobre o texto “Cândido”, de Voltaire, nos 250 anos do terramoto que destruiu Lisboa em 1755.

A atriz foi distinguida com a Medalha de Ouro de Mérito Cultural, do município do Barreiro, onde viveu, e a medalha de Mérito, grau ouro, da Sociedade Portuguesa de Autores.

Alina Guerreiro de Moura Vaz nasceu a 19 de janeiro de 1936, em Faro, estudou Teatro no Conservatório Nacional, em Lisboa, e efetuou várias “masterclasses”, entre elas, uma com Peter Brook, na Fundação Gulbenkian.

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