O protesto demorou semanas a ser pensado e planeado mas como as bancadas se encontravam fora do local principal a maioria dos participantes nas conversações da ONU sobre o clima deste ano não viram nem ouviram o protesto.
É “muito difícil fazer ouvir as nossas reivindicações”, afirmou Bianca Castro, uma ativista climática portuguesa, citada pela agência de notícias AP.
Bianca Castro já participou em várias COP e lembra-se de anos em que havia milhares de manifestantes nas ruas e uma multiplicidade de greves e ações ao longo do evento. Mas nas bancadas do estádio, foi-lhes dito exatamente onde e quando podiam estar de pé e os cânticos foram restringidos.
Um porta-voz das Nações Unidas para as alterações climáticas afirmou que “facilitar ativamente uma ação de sensibilização deste tipo – numa parte do recinto que não está aberta aos participantes – envolveu um diálogo alargado entre os participantes, os gestores das instalações e os responsáveis pela saúde e segurança”.
As pessoas envolvidas em protestos dizem ter sentido uma tendência nos últimos anos de regras mais rígidas por parte dos organizadores das Nações Unidas, com as COP sendo realizadas em países cujos governos limitam as manifestações e a participação da sociedade civil.
E alguns espaços comunitários de preparação e organização tiveram de recorrer à clandestinidade devido a preocupações de segurança.
Mas a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas — UNFCCC, o organismo que dirige as COP – afirma que o código de conduta que rege as conferências não mudou, nem a forma como é aplicado, e os organizadores da COP29 dizem que há espaço em todo o local para os participantes “fazerem ouvir as suas vozes de acordo com o código de conduta da UNFCCC e a lei do Azerbaijão, em segurança e sem interferências”.
Apesar dos desafios, os ativistas afirmam que este continua a ser um momento crítico para falar sobre as injustiças históricas e atuais que precisam desesperadamente de dinheiro e atenção.
Tal é especialmente verdade este ano, numa COP cujo tema é o financiamento, porque as vozes do Sul Global desempenham um papel fundamental na apresentação de exigências ambiciosas à mesa de negociações, disse Rachitaa Gupta, que coordena uma rede global de organizações que defendem a justiça climática. Mas, lamentou, as regras têm sido mais apertadas a cada ano e os manifestantes não podem referir os países ou nomes específicos.
“Sentimos que as restrições chegaram a um ponto em que é uma batalha constante sobre o que podemos dizer”, disse Rachitaa Gupta. Os ativistas não podem nomear países, pessoas ou empresas específicas, de acordo com o código de conduta da UNFCCC.
Do outro lado da cidade, no centro de Baku, ativistas procuram criar símbolos em tecido e cartão sobre a ação climática. Mas o que foi um antigo espaço de arte é agora um espaço fechado cuja localização não é revelada por razões de segurança.
Sem poderem usar nomes ou bandeiras os ativistas fizeram uma grande serpente com a frase “Weed Out the Snakes” (Eliminar as cobras), uma alusão à necessidade de tirar da COP os grandes poluidores e os lobistas dos combustíveis fósseis, porque a situação é escandalosa, segundo o ativista Jax Bongon, que pergunta: “Convidaríamos um incendiário para apagar um fogo?”.
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