O governo talibã não é reconhecido por nenhum Estado do mundo, mas pediu para participar nas negociações internacionais sobre o clima.

 

“Uma delegação do governo afegão estará em Baku”, disse à agência noticiosa France-Presse (AFP) o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros afegão, Abdul Qahar Balkhi.

O Afeganistão, o sexto país mais vulnerável às alterações climáticas, debate-se com inundações repentinas, secas e outras catástrofes naturais que os cientistas associam às alterações climáticas. Só em maio, mais de 350 afegãos morreram em inundações.

A Agência Afegã do Ambiente (NEPA) já foi convidada para cimeiras internacionais, mas os seus funcionários nunca obtiveram os vistos necessários para participar, disse à AFP o responsável pelas alterações climáticas na NEPA, Rouhollah Amin.

O estatuto da delegação afegã na COP29 – que reunirá 198 países até, pelo menos, 22 de novembro – não foi imediatamente esclarecido, mas fontes oficiais disseram à AFP que lhe poderá ser concedido o estatuto de observador.

Depois de Baku, Cabul espera obter vistos de Riade para participar na COP16 sobre a desertificação, que decorrerá na Arábia Saudita, em dezembro, continuou Amin, sem avançar pormenores sobre a delegação que o Afeganistão poderá enviar.

O Azerbaijão, um país exportador de hidrocarbonetos entre a Rússia e o Irão, reabriu a sua embaixada em Cabul em fevereiro, sem reconhecer oficialmente o governo talibã.

A NEPA, por seu lado, argumenta constantemente que a quebra de cooperação entre Cabul e o resto do mundo não se deve aplicar às questões ambientais.

“As alterações climáticas são uma questão humanitária e apelamos à comunidade internacional para que não associe as questões das alterações climáticas à política”, declarou recentemente à AFP a ‘número dois’ da NEPA, Zainulabedine Abid.

O Afeganistão, então governado pelo antigo regime da República Islâmica, apoiado por uma coligação ocidental derrotada pelos talibãs há três anos, assinou o Acordo de Paris em 2015, que deveria limitar o aquecimento global a 1,5 graus Célsius.

Assim, de cinco em cinco anos, Cabul deve apresentar os seus “Contributos Nacionalmente Determinados” (CDN) aos outros signatários.

Este ‘dossier’ estava a começar a ser compilado antes do regresso ao poder do governo talibã.

“Em 2023, decidimos que tínhamos de, pelo menos, finalizar este documento, quer o secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas o aceite ou não”, afirmou Amin.

“É uma questão nacional. Temos de concluir este documento’, insistiu.

Durante algum tempo, as autoridades talibãs pensaram que poderiam participar na COP28, que se realizou no ano passado nos Emirados Árabes Unidos (EAU), país que já acolheu vários dirigentes talibãs. No entanto, devido à falta de convites e de vistos, tiveram de passar ao lado.

O diretor-geral da NEPA, Mawlawi Matioul Haq Khalis — antigo negociador talibã e filho de Younous Khalis, uma das figuras de proa do ‘jihadismo’ moderno — denunciou recentemente esta ausência forçada, apelando à comunidade internacional para que altere a situação na COP29, segundo a agência estatal Bakhtar.

A NEPA refere invariavelmente os números: em 2019, o Afeganistão foi responsável por 0,08% das emissões globais de gases com efeito de estufa.

“Isso não é nada” e, no entanto, o Afeganistão é um dos países ‘mais afetados pelas alterações climáticas’, lamenta Amin.

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