Num evento hoje em Londres sobre “o recurso da Rússia à deslocação forçada na Ucrânia” organizado pelo centro de estudos Chatham House, a advogada defendeu a formação de uma “coligação de nações” que apoie uma campanha sobre este tema.
Kennedy é copresidente da iniciativa “Bring Kids Back” lançada pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para propor recomendações de forma a facilitar o regresso das crianças deportadas da Ucrânia pela Rússia.
“Estamos a tentar persuadir as pessoas de que esta é uma questão séria para a consciência do mundo, que é um imperativo humanitário partilhado. Temos de ser capazes de persuadir mesmo os países que dizem que não querem tomar partido”, afirmou, a propósito de vários países africanos que recusaram apoiar uma resolução da ONU para condenar a invasão da Ucrânia em 2022.
Segundo Kennedy, “se conseguirmos persuadir o hemisfério sul a participar nesta discussão sobre a apreensão de crianças, isso é muito importante”.
Outra medida que discutida pelo grupo de peritos envolvidos na iniciativa ucraniana é a criação de um quadro jurídico internacional para a proteção das crianças e para o regresso deste tipo de transferência forçada e deportação de crianças, revelou.
Na semana passada, após o Conferência sobre a Dimensão Humana do Plano de Paz Ucraniano, no Canadá, Catar, África do Sul e Vaticano ofereceram-se para atuar como mediadores para negociar com a Rússia a entrega das crianças ucranianas transferidas para território russo desde a invasão da Ucrânia.
A perita jurídica Kateryna Rashevska, do Centro Regional para os Direitos Humanos ucraniano, afirmou que “as crianças ucranianas não são danos colaterais nesta guerra, a Rússia tem-nas usado como alvo deliberado”, referindo também os bombardeamentos a escolas, hospitais e outras infraestruturas.
“Nos territórios ocupados, as crianças ucranianas continuam a ser torturadas e detidas ilegalmente por soldados russos.
Milhares delas foram deportadas e transferidas para famílias russas para acolhimento ou adoção, e são forçadas a perder a sua cultura de identidade, individualidade e laços familiares nos territórios ocupados”, denunciou, numa intervenção por videoconferência.
No início de outubro, o provedor de Justiça ucraniano, Dmitró Lubinets, acusou a Rússia de ter raptado 19.546 crianças desde o início da guerra, em 22 de fevereiro de 2022.
Helena Kennedy, que é membro da Câmara dos Lordes, a câmara alta do Parlamento britânico, afirmou que este número é questionado por organizações humanitárias e pela ONU, e que a Universidade de Yale estima que rondem entre 12.000 a 14.000 crianças.
“Embora o cálculo dos números seja problemático, o que não é problemático é o seu volume, que é muito grande”, salientou.
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